2 de maio de 2024
Opinião

O vácuo na Segurança Nacional não é privilégio do RN, nem da Esquerda X Direita

Por Malu Gaspar no Globo 

De tempos em tempos, o crime organizado produz um espetáculo de violência e selvageria que nos lembra da pior maneira possível de uma de nossas mais graves lacunas, que nenhum governo foi capaz de sanar: a falta de uma política integrada de segurança pública, que submete os brasileiros à constante sensação de vulnerabilidade.

Em 2021, o Amazonas foi palco de crise semelhante, que também terminou com a chegada da Força Nacional.

Em 2019, tinha acontecido no Ceará.

Rebeliões nas penitenciárias de Pedrinhas, no Maranhão, e de Alcaçuz, no mesmo Rio Grande do Norte, já haviam legado à memória nacional imagens tenebrosas de presos decapitados e incinerados durante rebeliões.

A FALTA DO SISTEMA ÚNICO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Quando Jair Bolsonaro assumiu o governo, o Brasil estava prestes a implantar o Sistema Único de Segurança Pública, criado em 2018 depois de um amplo debate do Congresso.

Mas o sistema, planejado para integrar as bases de dados sobre crime de todo o país, permitindo a articulação de operações e atividades de inteligência, foi esquecido e até hoje carece de regulamentação e estrutura.

Se estivesse em funcionamento, poderia ter ajudado a prevenir os ataques no Rio Grande do Norte.

ESQUERDA X DIREITA VOLVER 

O desleixo com a segurança pública é fruto de uma característica comum à esquerda e à direita: a falta de coragem para discutir o tema em profundidade.

Para boa parte da direita, política de segurança pública é matar bandido.

A esquerda historicamente evita o assunto, que considera “questão de polícia”.

Na campanha, o time de Lula ensaiou um debate sobre segurança em que se propunha a reformulação das polícias, mas ele foi rapidamente sufocado.

Temia-se a má repercussão numa fatia do eleitorado que poderia fazer diferença decisiva em favor de Bolsonaro.

Houve, ainda, uma intensa discussão sobre a necessidade de criar um Ministério da Segurança Pública separado do Ministério da Justiça, para manter o foco no combate ao crime sistêmico. O tema rachou os aliados do petista, que ao final optou por deixar tudo como estava.

Ontem, enquanto cem homens da Força Nacional desembarcavam em Natal, Lula anunciava a distribuição de 270 viaturas policiais licitadas* no governo passado e a recriação do Pronasci, um programa que financia de viaturas a delegacias, passando por programas de educação e ressocialização de presos.

No discurso, Lula falou da importância do acolhimento à mulher e do investimento em educação para reduzir a criminalidade, mas não disse uma palavra sobre os acontecimentos no Rio Grande do Norte, onde teve 65% dos votos no segundo turno.

CONSEQUÊNCIA DO VÁCUO

Da última vez que a esquerda deixou no vácuo um tema tão importante para o brasileiro médio, teve que engolir a ascensão de Jair Bolsonaro.

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