O VULCÃO DO CREPÚSCULO VERMELHO
Há um ano, do outro lado do mundo, a terra explodiu debaixo d’água, libertando a força da natureza, como nunca havia sido registrada na vulcanologia.
Como se das suas entranhas, a terra estivesse mandando uma mensagem urbi et orbi.
O esperado tsunami não varreu os sete mares, mas o aviso, lembrando que o planeta é um só, chegou para todos.
A nuvem de fumaça que seguiu ao tremor da terra não só deixou prejuízos para os 25 mil habitantes de Noku’Alofa, mas espalhou-se pelo resto do mundo, conduzindo no seu rastro, ao sabor dos ventos, partículas invisíveis de poeira, que acrescentaram às últimas luzes do dia, inéditas cores da paleta que retrata beleza e vida.
O vulcão de Tonga fez voltar ao cartaz, em todas as cidades, das megamaiores às pequenas vilas, um espetáculo cada vez com mais plateia.
O por-do-sol em algum lugar especial e mágico.
A certeza que não será o último e que no dia seguinte tem mais, faz o momento único reavivar memórias e acalentar sonhos de paz.
Evoca lembranças e alerta que tudo chega ao fim.
E sempre tem recomeço.
O preparo de cada performance leva o dia todo; a mostra, em si, só alguns minutos.
Resume-se a uma única cena com ares de despedida.
Acrescentada ao espaço cênico, música instrumental faz a diferença na percepção de quem assiste.
Até listas dos dez mais correm a blogosfera, e há quem faça longas viagens, apenas para conferir se a fama é merecida.
Ele parte, mas sempre volta.
Rá já foi rei. Já foi deus.
Nunca deixará de ser o grande astro dos arrebóis.
(Publicação original em 2/3/22)