ODISSEIA SERTANEJA
(Publicação original em 29/04/2019)
Tem gente que se dá bem na vida, estando sempre de mal com a vida.
A família os protege de notícias ruins, para evitar que o mal fique pior.
Tudo que dizem é sempre debitado do seu estado de espírito.
Todos conhecem um tipo assim.
Alguns são antológicos.
Como os saudosos Odisseu, capitão dos mares bravios do sertão paraibano e sua fugidia Penélope.
MAU HUMOR TAMANHO FAMÍLIA
Bem humorado nunca foi nem haveria de ser.
Sempre de carranca, tinha fama de pouca conversa e respostas rápidas e ríspidas.
De família tradicional, construiu moradia e vida no sertão paraibano, limites com o Ceará.
Dono de algumas terras, vivia do que ela e o gado davam.
Tentou a política mas não conseguiu se eleger nem para a bancada dos sem carisma.
Certa feita, recebeu a visita de um sobrinho que queria trazer e levar notícias da parentada distante.
A conversa mal começou e já deu pra notar que pr’aquelas bandas as coisas não iam muito bem.
Carestia grande.
Com pouco movimento no comércio e nas feiras, o dinheiro não circulava.
Seca prolongada.
Gado magro, definhando, com quase nenhuma produção de leite.
Saúde precária.
Piorada por mijadeira que o doutor disse ser problema de próstata.
Família desunida.
Há muito não tinha nem notícia dos filhos.
Para amenizar a conversa, resolveu perguntar pela tia ausente:
–Foi pra Fortaleza, se amigar com o Papa.
Em 1980, o Santo Padre João Paulo II fazia sua primeira visita ao Brasil.
O médico urologista resolveu virar escrivinhador e se deu bem. Até um linguarudo do Bosque o elogiou. Afastado do consultório, gasta o tempo produzindo “textículos” para o bem de todos e do resto da nação. Seria assim que Dom Pedro I diria.
Isso mesmo, professor.
Grande texto . Merece todos os elogios e registros.