ORDEM AO TRABALHO
Invejada pelos mais jovens e pelos alpinistas, a vida de medalhão da Medicina pode até parecer maravilhosa.
Além do conhecimento científico precisar de constante atualização, viagens a congressos e convites irrecusáveis para aulas, tomam o já espremido tempo do descanso e do lazer em família.
Não era diferente com quem criou fama por transformar um hospital público municipal, com suas dificuldades, em centro de treinamento formador de urologistas e residência médica mais disputada que as dos centros universitários.
Personagem destacado d’O índio cor-de-rosa, a evocação de Orígenes Lessa a Noel Nutels.
O título do capítulo já diz muito: O consultório está chamando…
Como o colega médico, ilustre paciente e indigenista, o rebelde Dr. Henrique Rupp também não atendia aos reclamos da mulher e filhos para deixar um pouco sua aldeia na Clínica Sorocaba, na selva de Botafogo.
Ali era o pajé a quem recorriam os ricos, famosos, políticos, militares de alta patente. E quem quer que fosse, se achasse poderoso e pudesse pagar a conta.
Seu prestígio era garantido pelos resultados e pela atenção total ao cliente.
Os serviços incluíam disponibilidade todos os dias do ano. E da semana. E não respeitava sábados e domingos.
O tempo livre era mais produtivo na oficina que instalou no amplo apartamento do Flamengo que nas quadras de tênis da Sociedade Germania.
Não faltavam equipamentos médicos para consertar ou aperfeiçoar. E muita criatividade para transformar em aço toda ideia que melhorasse seu desempenho na sala de cirurgia.
Sempre havia um próximo feriado e muitas promessas nunca pagas, de uns poucos dias de férias.
Planos adiados por culpa de algum paciente requerendo maiores cuidados. Ou muitos, as atenções de sempre.
Nem o calor do verão, nem a casa no canal de Cabo Frio, nem a lancha ancorada no píer do jardim, eram motivos suficientes para fazê-lo atravessar a ponte.
Só podia ser o ano bissexto, e a fase da lua, crescente, para a mulher acreditar no que estava ouvindo.
O próximo fim-de-semana seria especial. Ia dar praia.
Sem outros planos além do dolce far niente, acordou cedo, no horário de trabalho de sempre, para o dia diferente ser ainda mais longo.
Vestiu a melhor roupa pra quem não tem o que fazer e foi assuntar a vizinhança, ver o mundo e pensar nas vidas que cuidava e na que levava.
Lugar melhor não havia pra fazer essas coisas, que não a chaise longue.
Não deu nem tempo de espreguiçar, antes do primeiro cochilo, de um barco de pescadores transformado em iate de passeio para farofeiros, veio o grito.
E a senha para abreviar o feriado.
-Vai trabalhar, vagabundo!
Chico Buarque – ‘Vai trabalhar, Vagabundo’ (C.Buarque, 1976)
De Ricardo Calazans, pelo WhatsApp:
Bom dia.
Me lembrei do gordo Maxuell, depois de fazer a feijoada toda, sozinho, na ABO, foi experimentar o caldo. Passou um gaiato e disse: esse gordo só faz comer…..rsrsrs