2 de maio de 2024
Educação

OS DOUTORES DO ABC DEPOIS DA PANDEMIA

Giovanni Bragolin


No rol das mudanças trazidas  pela  pandemia, o prejuízo à aprendizagem das crianças não tem recebido a devida atenção, mas não deixará de constar  da fatura a ser apresentada nas próximas décadas.

  dois anos, ainda  entre os destroços do rescaldo da primeira onda, aulas remotas improvisadas forçavam o cancelamento das cerimônias  de colações de grau das turmas de alfabetização.

A primeira conquista do estudante, ponto de partida para outras muitas, ficou sem a marca da alegria e da importância demonstrada pela amorosa presença familiar.

Álbuns de recordações não guardarão a clássica foto da criança sentados ao birô, entre bandeiras, de farda alinhada e capelo.

A crise sanitária que impediu aulas presenciais, desafiou  o ensino sem a presença próxima dos professores.

Os tempos que ficaram  para trás, da vida escolar sem a pré-escola, não deixarão de contar suas estórias.

Não foram poucos os que por razões financeiras, suspenderam as matrículas dos filhos, desconectando-os  das aulas remotas.

A aprendizagem doméstica não se mostrou tão simples como parecia.

Os apelos que dispersavam a atenção do aluno-filho estavam por todo canto, incluído o computador doméstico, antes limitado ou proibido.

O que era objeto de restrições, sujeito ao uso apenas em períodos determinados, seguindo combinados e acordos, passou a ser sala de aula e playground.

Mesmo pais que faziam sérias restrições ao acesso dos filhos aos smartphones, foram vencidos pelo cansaço e exaustão do repertório das brincadeiras educativas domésticas.

Chegará o tempo de saber se equipamentos das mais avançadas tecnologias,  convivendo com o velho e bom livro, deram bons resultados.

O que disse o neto formado no ABC, durante e um ano depois do  lockdown escolar, talvez comece a explicar.

Vovô, fui aprovado. Só não sei como passei. Nem para a escola eu fui direito.

Vovô, vou ter aulas de reforço. E perder oito horas das minhas férias.

Giovanni Bragolin

***

Bruno Amadio ou “Giovanni Bragolin” (1911/1981) foi um pintor italiano  que ficou famoso ao pintar quadros de crianças tristes e chorando que foram vendidos em vários lugares do mundo.

A história contada é que Bragolin, um pintor fracassado, fez um pacto com o diabo para obter sucesso. Ele teria sonhado com crianças que eram torturadas e sacrificadas, as quais teria pintado em sua série.


(Este texto, publicado há um ano, sofreu alterações) 

One thought on “OS DOUTORES DO ABC DEPOIS DA PANDEMIA

  • Maria das Graças de Menezes Venâncio

    Muito bem. Abordou vários aspectos de uma realidade que presenciamos sem fazer nada. Nos defrontando com muita ignorância, até de supostas pessoas mais esclarecidas, porque se são professores ou ocupam lugares de decisão. Muito bom, enquanto isso a falta de respeito campeia, a violência contra a mulher enorme, exorbitante eu diria. Nenhuma mulher quer apanhar e nem levar gritos, muito menos de estranhos. Qdo já se conhece parte dos problemas de uns apenas se faz ouvidos de mercador.

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