OS NOVOS IDIOTAS DA ALDEIA
A nova política mal começou, e no primeiro mandato, nos mesmos revoltos mares da corrupção, afogada nas águas escuras das emendas parlamentares, já acabou.
A velha, quase defunta, está rediviva em novos personagens, outros enredos e estratégias nunca vistas.
Umberto Eco não teve tempo de ampliar suas observações sobre os que denominou de idiotas da aldeia.
Passados sete anos da sua morte, o genial filósofo italiano ficaria estarrecido com a ousadia dos novos portadores da verdade.
Eles saíram das sua alexandrias, dos seus piemontes e conquistaram o mundo digital.
Multiplicaram-se aos robôs, formaram legiões de adeptos, dividiram as notícias de jornal com a maior pandemia que já afligiu a humanidade, e sobreviveram.
Estão, de novo e como sempre, na crista da onda e no epicentro do jogo político.
Como dito nas terrinhas (de além e de aquém-mar), cesteiro que faz um cesto faz um cento.
Nestes quatro anos da volta deste Território Livre, já são mais de 1500 pequenos textos publicados, em homeopáticas doses matinais.
No começo, a expectativa de comentar notícias, como fazíamos, eu e meia dúzia de três ou quatro colaboradores do blog de Laurita.
Depois, vieram os lampejos de lembranças de instantes que valem a pena recordar.
Estórias de 101 noites, tardes e manhãs.
Uma puxando outra, antes que caiam no esquecimento, por artes do malvado doutor alemão.
Vieram os tempos de novos costumes, e a constatação que não se fazem mais comentaristas como os de antão.
Não precisa nem de uma pesquisa da FUNPEC para saber o porque.
Hoje todos têm seus próprios canais de comunicação, com interação, via WhattsApp e outros Telegram assemelhados.
Tudo en petit comité, até que surja um hacker ou um implacável juiz supremo para acabar a barulhenta festa.
Serão os recalcitrantes que nos tornamos, os verdadeiros idiotas da aldeia, auto-promovidos a portadores da verdade?
Na dúvida, é melhor catilinar como Cícero:
O tempora! O mores!
(Reflexões baseadas em publicação original de 16/06/2019)