4 de maio de 2024
Coronavírus

OUVINDO VOZES

E858C6AC-EA71-4E59-8F6E-7F756974EF91Aprender com o passado, na crença que a História se repete,  é o que muitos têm feito nestes tempos de isolamento voluntário.

Procurar relatos das grandes epidemias para encontrar nas tragédias quase esquecidas, refúgio e saída para angústias atuais.

O que se pode obter neste material pesquisado são retratos instantâneos do então desconhecido.  Fotos esmaecidas e manchadas pelo tempo. Textos em linguagem arcaica. E as mesmas emoções que os anos não conseguem mudar.          

Quando tudo que se tinha de fazer era esperar a morte chegar. E enquanto ela não vinha, rezar.                                      

Como hoje, a  única medida preventiva a ser feita era  o afastamento. Dos corpos sem vida, depositados nas calçadas para serem recolhidos.

O mesmo que hoje fazemos, em isolamento voluntário, com o lixo doméstico.

Os números do passado são apresentados, sem qualquer possibilidade de estarem próximos dos exatos.

Não havia quem os coletasse. Os coveiros perdiam as contas nos enterros em vala comum.

Esta história é a estória que nos chega dos sobreviventes. Contadas por eles mesmos.

Tirando uma ou outra descrição da agonia de familiar ou pessoa próxima,  as vítimas não deixaram registros dos seus testemunhos. Foram os desafortunados. Sem sorte. Sem defesas.

Em tempos cibernéticos, a pandemia é acompanhada online e a maior dificuldade é a impossibilidade de captar tanta informação.

Cada um se protege como pode ou como as autoridades sanitárias orientam e deixam.

Com uma grande dúvida.

Quem diz a última palavra?

Quem é o líder?

Em quem confiar.

4741A476-B560-4975-8AD8-6E3A54DD568BNinguem elegeu nenhum desses governantes  pensando na capacidade de enfrentar problemas como o atual.

As soluções e medidas adotadas, mesmo que baseadas em experiências passadas, em outras situações, não se aplicam agora.

O que nos aflige é novo. Surgiu do nada. Ninguém sabe como se comporta. É dissimulado, sorrateiro. Mutante.

Atônitos, todos vagam à procura  de um condutor. Um maestro. Um guia.

Alguém em quem se possa confiar e  que tenha conhecimento, saiba filtrar o que se divulga e que decida o melhor para todos. Mesmo que opções pessoais ou de grupos não sejam as mais adequadas.

Ou será que no futuro alguém vá aprender alguma coisa com os dramas pessoais dos antepassados do século XXI?

Entenderão a gravação deixada pelo advogado carioca,  isolado num quarto fechado de um hospital de luxo?

Seguindo o que devia ser feito, diabético e obeso, ao perceber que sua tosse estava mais constante e a febre persistente, procurou o melhor hospital do bairro de classe média alta do Rio de Janeiro.

Deixado, conforme tocante depoimento gravado, numa jaula onde os cuidadores não ousavam entrar.                       

Por dois dias não teve direito a nenhum cuidado de higiene pessoal. Nem ao que nunca negou ao seu cãozinho de estimação. Um lugar  apropriado para aliviar o pipi.

Cansado de clamar por ajuda, registrou sua agonia em áudio.

Dois dias depois, seus familiares registraram em boletim de ocorrência mais uma morte atribuída ao coronavírus.

E ao vírus do medo, alimentado  pela falta de equipamentos de proteção individual.

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