2 de maio de 2024
Comunicação

OVOS DO OFÍCIO

Urutu (1928) – Tarsila do Amaral – Coleção Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM


Quando começaram a ser publicadas, o autor destas  bem ou mal traçadas linhas, sabia muito bem que os ledores das telas  de smartphones não costumam ir até o final de textos longos.

E chatos.

Tratou logo de atrofiar os textículos para  fazê-los mais deglutíveis.

Sabe-se que no frigir deles, o que vale é prender a atenção do zapeante leitor e passar a mensagem.

Um toque de humor, mal só faz a quem acordou  com os próprios virados.

São dois minutos de leitura.
Para alguns, uma cantilena que dura um inverno.

Em Lajes.

Parágrafos curtos.

Pontos e vírgulas sem avareza.

Pausas para o sacrossanto direito de respirar.

Fotos chamativas como manchete de tabloide inglês.

Quando possível, um filmete surrupiado do YouTube.

De quando em outra, musiquinha de bom tom.

Mesmo pisando neles, não tem jeito .

Idiossincrasias aparecem.

Umas discretas.

De um amigo que reclama do palavreado démodé, por vezes subtil.

Outros de estar fazendo muito omelete.

De não ser claro.

De misturar os assuntos.
Jogar tudo na mesma frigideira.

De exagerar  no óleo.

Não usar fogo brando.

Nem banho-maria.

Se acrescentar alguns ingredientes, gora geral.

Moluscos, de cativeiro ou reaproveitados pela terceira vez, sempre provocam urticária na parte do público que está sempre vermelha.

E se incluir qualquer outro coiso, seus filhotes ou colabs, um exército de milicianos, feitos robôs, aparece quebrando a bandeja toda.

Teve até quem confundisse este TL com a Veja. Ou terá sido com a Folha?

Ameaçou suspender a assinatura (que não tem) no jornal que já enfrentou ameaças e perigos mais reais.

O galado não ficou sem resposta.

Curta e grossa.

Escravo da verdade, quem escreve com espírito de missivista espera que o incidental vire fiel leitor.

Será que ficou claro?

Ou é melhor  desenhar uma figura ovóide?

Antropofagia (1929) – Tarsila do Amaral – Acervo da Fundação José e Paulina Nemirovsky, São Paulo

(Quatro anos depois da primeira publicação, o texto sofreu alterações)

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