OVOS DO OFÍCIO
Quando começaram a ser publicadas, o autor destas bem ou mal traçadas linhas, sabia muito bem que os ledores das telas de smartphones não costumam ir até o final de textos longos.
E chatos.
Tratou logo de atrofiar os textículos para fazê-los mais deglutíveis.
Sabe-se que no frigir deles, o que vale é prender a atenção do zapeante leitor e passar a mensagem.
Um toque de humor, mal só faz a quem acordou com os próprios virados.
São dois minutos de leitura.
Para alguns, uma cantilena que dura um inverno.
Em Lajes.
Parágrafos curtos.
Pontos e vírgulas sem avareza.
Pausas para o sacrossanto direito de respirar.
Fotos chamativas como manchete de tabloide inglês.
Quando possível, um filmete surrupiado do YouTube.
De quando em outra, musiquinha de bom tom.
Mesmo pisando neles, não tem jeito .
Idiossincrasias aparecem.
Umas discretas.
De um amigo que reclama do palavreado démodé, por vezes subtil.
Outros de estar fazendo muito omelete.
De não ser claro.
De misturar os assuntos.
Jogar tudo na mesma frigideira.
De exagerar no óleo.
Não usar fogo brando.
Nem banho-maria.
Se acrescentar alguns ingredientes, gora geral.
Moluscos, de cativeiro ou reaproveitados pela terceira vez, sempre provocam urticária na parte do público que está sempre vermelha.
E se incluir qualquer outro coiso, seus filhotes ou colabs, um exército de milicianos, feitos robôs, aparece quebrando a bandeja toda.
Teve até quem confundisse este TL com a Veja. Ou terá sido com a Folha?
Ameaçou suspender a assinatura (que não tem) no jornal que já enfrentou ameaças e perigos mais reais.
O galado não ficou sem resposta.
Curta e grossa.
Escravo da verdade, quem escreve com espírito de missivista espera que o incidental vire fiel leitor.
Será que ficou claro?
Ou é melhor desenhar uma figura ovóide?
(Quatro anos depois da primeira publicação, o texto sofreu alterações)