11 de maio de 2024
Opinião

Papel da CPI na hora de virar algozes em vítimas

 

Roda Viva – Tribuna do Norte – 03/05/23

– Necessária ou não?

Uma CPI para apurar os ataques golpista de 8 de janeiro, quando todos os fatos já estão sob investigação pela Polícia Federal e do Ministério Público, deve fazer o quê?

A CPI já está instalada desde a semana passada e tem causado muitos  questionamentos.

É preciso lembrar que nunca existiu um atentado contra a democracia brasileira (invasão da sede dos Três Poderes), com essa enorme importância, todo transmitido ao vivo pela televisão aberta, e que ainda tenha deixado um complemento de provas adicionais onde alguns réus tenham confessado, espontaneamente, os crimes de que são acusados em depoimentos nas redes sociais, demonstrando sua concordância e muitos destacando sua própria participação nos atos delituosos.

Sobre a CPI do 8 de Janeiro, do ponto de vista investigativo, é provável que a CPI tenha pouco a acrescentar. Mas a força política e o envolvimento popular só tem a ganhar com a CPI.

QUEM ESTÁ ESCAPANDO

Alguns observadores muito mais objetivos acham que só a CPI tem estrutura para chegar aos mentores do movimento, além de colocar os tais mentores, financiadores, executores e organizadores, dos ataques golpistas que culminaram com a depredação do Palácio do Planalto, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal, no que é aceito como um dos espetáculos (espetáculo, sim) mais infames da História do Brasil.

Ao todo, 1.390 presos foram denunciados, com 300 acusados tornados réus no Supremo Tribunal Federal.

Enquanto a Justiça fazia o seu trabalho, o vazamento de imagens do General Gonçalves Dias, então Chefe do Gabinete de Segurança (GSI), zanzando entre os golpistas e integrantes do CSI interagindo com invasores deflagrou uma nova guerra de narrativas.

E o Governo (Governo Lula), até então, totalmente contra a CPI, não teve como deixar de apoiá-la depois de também colocado sob suspeita.

A FORÇA DAS IMAGENS

A oposição bolsonarista – até então – sitiada e perdida (mais perdida do que cego em tiroteio) ganhou folego com imagens que vazaram do Palácio do Planalto, e aproveitou para acusar o Governo de ter facilitado os atos golpistas numa trama maquiavélica para figurar como vítima.

Por mais que as tais imagens demandem uma apuração específica, para saber se houve conivência do general Gonçalves Dias e de seus subordinados, para manter essa teoria de conspiração segundo respeitados observadores, “não tem o menor cabimento”.

Outros tratam como “ridícula” a tentativa de transformar os golpistas em vítimas.

Não esquecer que – por mais importantes – trata-se come de aspectos acessórios, que quando tomam o lugar do principal terminam servindo para tornar o principal ainda mais confuso.

MUITA COISA APURADA

Muitas coisas já estão apuradas e comprovadas:

1 – Os ataques não foram espontâneos;

2 –  Foi tudo planejado (e sobre isso não existem dúvidas). As evidências que existem (e são robustas) associam o planejamento que tinha objetivos de promover um golpe de estado, para manter Jair Bolsonaro no poder, com apoio de militares;

3 – Tudo deu errado, mas as mensagens que circularam nas redes sociais convidando para a “festa de Selma” não deixam a menor dúvida sobre a intenção dos promotores do movimento.

Mas, ainda existem dúvidas importantes, tipo:  a) “de onde partiu a ordem para invadir as sedes dos Três Poderes; b) de onde veio o financiamento para manutenção dos acampamentos onde os golpistas ficaram concentrados vários dias; c) o envolvimento dos militares chegou a qual nível; d) houve tentativa de obter apoio do Alto Comando: e) porque os responsáveis pela segurança foram lenientes; f) por que a Guarda Presidencial foi dispensada?

OS ESPAÇOS DA CPI

Como se vê existe muito mais espaço para a CPI do que personificar uma grande batalha entre lulistas e bolsonaristas, mesmo como muita gente achando que o ringue já está montado no Congresso Nacional.

O lado do Governo depois de dois meses de luta para inviabilizar a CPI, manobrou para ganhar mais uma vaga na Comissão.

A Oposição estrilou, mas tinha muito pouco o que ainda poderia fazer, nessa fase preliminar. Porém já pode antever o que ainda vai ter de enfrentar num futuro próximo.

Mais do que o país, esse clima conflagrado terminará favorecendo os extremos.

Uma preocupação é que existam cuidados para evitar que parlamentares – dos dois lados – coniventes com os atos criminosos não venham a integrar a CPI, onde já existe muita gente já trabalhando para transformar algozes em vítimas.

O assunto é importante demais para chegar até o fim sem a força do Poder Legislativo, também vitima desse atentado terrorista.

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