2 de maio de 2024
Opinião

Pesquisas inviabilizam Bolsonaro, mas política local é em voo cego

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 14/0721

Por menos prestígio que as pesquisas desfrutem no momento, ninguém resiste a divulgação dos seus resultados. Sobretudo quando existe flagrante mudança de posições. Como acontece, agora, no Brasil.

A semana passada terminou com um acúmulo de resultados negativos para o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores.

Os números de todos os institutos, começando pela intenção de voto (numa eleição prevista para um ano e dois meses) são cruéis para o chefe do Governo, que ocupava uma posição de franco favorito como candidato à reeleição e não tinha o ex-presidente Lula podendo ser candidato, passando para a atual hipótese de nem ter votos para chegar a um Segundo Turno.

Pelas pesquisas, Bolsonaro está perdendo para Lula em todos os cenários, assim como para os outros candidatos, na eventualidade de um segundo Turno.

Vale lembrar a máxima do mestre Valdir Pereira, o Didi, camisa 8 da seleção campeã do Mundo na Suécia (1958) e no Chile (1962):

“Treino é treino e jogo é jogo” (Didi não gostava de treinar).

Pesquisa é pesquisa e eleição é eleição.  Digo eu, que adoro eleição, que é como a democracia é exercida.

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CONJUNTURA DESFAVORÁVEL

Certamente que só as pesquisas não bastam para construir o inferno astral de nenhum governo.

Antes dos números das pesquisas serem revelados, a CPI da Covid, no Senado Federal, atingiu a principal estaca de sustentação do Governo Bolsonaro: “um governo sem corrupção”, como o capitão dizia e repetia em todas as oportunidades. – E ninguém contestava.

Depoimentos e provas apresentadas deixaram no ar a existência de uma associação criminosa atuando no Ministério da Saúde, tendo influído na compra de vacinas, em momento fundamental para o combate as causas da pandemia que desarrumou a vida do Brasil (e do Mundo todo).

Pior: Pela primeira vez, o nome do Presidente da República aparece como conhecedor das falcatruas no Ministério da Saúde, segundo palavras de um Deputado Federal, que integrava a bancada governista, e disse ter informado pessoalmente a ele.

O Presidente não se pronunciou, não deu explicação à opinião pública, e ofereceu como resposta uma palavra chula contra-atacando a CPI. E até impeachment passou a ser visto no radar.

MOMENTO ADVERSO

Em meio ao avanço da CPI da Covid, a rejeição ao presidente Jair Bolsonaro atingiu o índice mais alto desde o início do mandato, segundo o Instituto Datafolha.

De acordo com o levantamento, 51% dos eleitores classificaram o governo como “ruim” e “péssimo”, o pior resultado registrado pelo chefe do Executivo em 13 pesquisas feitas pelo instituto desde 2019.

A reprovação era de 45%, em 8 de dezembro, quando começou a curva ascendente, o governo tinha taxa de 32%. O índice de “ótimo” ou “bom” manteve-se estável em 24% estável nos últimos dois meses, de acordo com o Datafolha. E o “regular” caiu de 30% para os atuais 24%.

Para respeitáveis cientistas políticos o aumento de reprovação do governo ocorre em razão de uma crise social, sanitária e política, agravada pelo seu tensionamento contra as instituições.

Os números de intenção de voto vão na mesma toada, por menos confiabilidade que tenha uma expectativa para um ato que só será praticado a mais de um ano.

Porém existe, na mesma pesquisa, algo mais grave contra Bolsonaro: – 52% não acreditam em sua honestidade, mal que ainda está evoluindo.

Na última segunda-feira, a principal manchete da Folha de São Paulo revela números piores: “70% dos brasileiros veem corrupção no Governo Bolsonaro”.

IMPACTO NEGATIVO

Em simulações de segundo turno, Bolsonaro perde para Ciro e Doria, mostra a pesquisa Datafolha para a eleição presidencial de 2022. Na simulação de primeiro turno, Lula fica à frente de Bolsonaro por 46% a 25% na pesquisa estimulada e por 26% a 19% na espontânea. O percentual dos que dizem que não votariam nele de jeito nenhum chega a 59%.

É em cima desses números que o quadro do RN está sendo arrumado.

Com Bolsonaro candidato e voando, em 2018, o efeito manada nas vésperas da última eleição, elegeu o General Girão, deputado Federal, e o coronel Azevedo, Estadual, os dois, surpreendentemente, ganharam com folga.

É difícil algum quadro tradicional entrar no bonde de Bolsonaro na atual conjuntura. Conjuntura que dificulta a posição os dois ministros do RN, Rogério Marinho (mesmo com enorme acervo de obras a apesentar aos seus conterrâneos) e Fábio Faria, maior interprete do pensamento bolsonariano.

Enquanto isso,  Lula reforça a posição da governadora Fátima Bezerra fortalecendo o seu palanque, nacionalizando a eleição estadual, e atraindo quem procura uma bandeira nacional para escapar.

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VOO CEGO

No RN a questão deixa o respeitável público ameaçado de enfrentar um voo cego.

A mídia profissional aqui não divulgou nenhuma pesquisa no meio da turbulência que tem Brasília no seu epicentro, nem existe uma programação regular de divulgação, como está fazendo no plano nacional.

As poucas pesquisas locais que se tem notícia são contratadas por grupos políticos que divulgam apenas os dados que lhes interessam, ou são bancadas pelos próprios institutos que fazem parceria com algum meio de comunicação que assegura sua divulgação e legalmente assumem os seus custos.

Essa situação beneficia a governadora Fátima Bezerra que continua sozinha na corrida pelo Governo do Estado, enquanto as inevitáveis mudanças pelo necessário – e inadiável – agrupamento de detentores de mandato numa mesma legenda em razão da proibição legal de coligações nas chapas proporcionais.

Ou esperam que até setembro que o Congresso derrube o modelo atual, adotando o “distritão” e liquidando os partidos políticos no Brasil. De vez.

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