2 de maio de 2024
ComportamentoPolítica

POLÍTICA EM CHEQUE

Cheque em Branco (1965) – René Magritte – Museu René Magrite em Jette, Bélgica


Os nascido sob os signos dos
docs e tedsnutridos com transferências online e pixs, nunca terão a sensação de receber, de volta, um envelope do banco, com um cheque cheio de carimbos no verso.

Antepassados dos cartões de crédito e débito, os substitutos da moeda em espécie e papel, eram companhias tão frequentes como são hoje, os telefones celulares.

Ninguém saia de casa sem dois acessórios nos bolsos.

Um pedaço de tecido, de cambraia de linho ou popeline, de 30X30 cm, e os talonários com as ordens para pagamentos pessoais.

Os vovôs dos hackers, golpistas e trambiqueiros por traços genéticos, já faziam misérias com aquelas tiras de papel. E com a boa-fé e a ingenuidade dos crédulos,  caídos em  conversa bonita e fiada.

Comerciantes eram divididos entre os que recebiam e os que proibiam a aterrissagem dos voadores em seus balcões.

Os borrachudos foram estudado às minúcias, dissecados, e classificados na taxonomia burocrática, como insetos fossem.

Contam que traficavam no contrabando, vindas do Japão  – antes do domínio chinês sobre as bugingangas a 1,99 –  canetas de tinta evanescente que desaparecia durante as  longas filas,  antes que  o cliente chegasse ao guichê de pagamentos e recebimentos.

Os frios (e mal calculados) foram sucedidos pelos especiais.

Com garantia de pagamento até um determinado valor, os bancos compensavam os avanços,  em crédito automático,  cobranças amigáveis, de escorchantes juros.

Para que se evitasse a volta do boêmio, todo cuidado era pouco.

Por diferença de centavos, o bumerangue estava de novo nas mãos do lançador como um cururu expulso a vassouradas.

Os rejeitados e desonrados viraram sinônimo de coisa sem valor.

Faziam de quem os recebiam, otários.

E os emitentes, xingados à quarta geração, mais do que filhos de origem pouco recomendável, portadores de rebuscados apêndices ósseos na testa.

Não havia vergonha maior que o humilhante título de passador de cheque sem fundo.

Todos estes conceitos são aplicáveis à política brasileira atual.

Tem muita gente que deu  um cheque em branco ao candidato vencedor, e duas semanas depois, já o recebeu de volta, carimbado de aumento de gastos públicos, incertezas com a economia e manchas nas liberdades individuais.

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(Alínea 12. Reapresentação do texto devolvido originalmente em  5/1/2021)

Decalcomania (1966) – René Magritte – Coleção Dra. Noémi Perelman Mattis e Dr. Daniel C. Mattis – Salt Lake City, Utah

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