PRIMEIRAS PROFESSORAS
Não era o mordomo, sempre o culpado.
Do que não devia ser ensinado às nossas crianças, quem pagava o pato era sempre a babá.
Antes das teorias psicopedagógicas, das escolas canadenses e das baby sitters com estágios em Miami, mocinhas vindas do interior eram quem mais influenciavam o linguajar dos privilegiados com funcionária de dedicação exclusiva, em tempo integral.
A farda branca, imaculada, não escondia a falta de oportunidades e formação de quem, por vezes, deixava os próprios filhos aos cuidados dos avós, ou ao léu, para cuidar dos outros.
Traziam costumes e dizeres.
Falavam em dialetos incompreendidos na cidade grande.
Neste conturbado tempos pós-pandemia, a reforma da lei trabalhista, a crise econômica e o expediente em home office não têm contribuído para a formação correta da oralidade da meninada.
Além de ter transformado as secretárias do lar em espécies raras na floresta urbana, a troca dos cuidadores não trouxe melhoras gramaticais nos pré-escolares.
Youtubers e digital influencers devem ser postos sob suspeição, desprovidos que são, de maiores recursos estilísticos na comunicação verbal.
Quando o pirralho ainda por completar dois anos, diante de uma situação frustrante, disse, com toda a propriedade, a locução interjetiva mais usada em Portugal e ex-colônias, para expressar o tamanho do susto, o momento pode ser aproveitado para demonstração da norma culta, do idioma pastorado pelo Profº Pasquale.
Para o transtorno fonológico não se transformar em dislexia, é aconselhada a correção das letras trocadas pelos aprendizes.
Ouvindo o certo, a criança deixa de falar de forma incorreta.
O segredo do sucesso é a paciência do professor.
Repetir.
Não cansar de corrigir.
Repetir.
Mas se faltar fleuma e saco, não há outra coisa a fazer, senão esbravejar do jeitinho que o pequeno aprendeu com alguém mais crescido.
Pata paliu!
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Lautir é um desenhista, ilustrador e pintor italiano de 53 anos que trabalha em Milão
(Publicação original em 02/02/2021)