3 de maio de 2024
Educação

PRIMEIRAS PROFESSORAS

Jean Piaget (1896-1980) – Lautir, em 2020


Não era o mordomo, sempre o culpado.

Do que não devia ser ensinado às nossas crianças, quem pagava o pato era sempre a babá.

Antes das teorias psicopedagógicas, das escolas canadenses  e das baby sitters  com estágios em Miami, mocinhas vindas do interior eram quem mais influenciavam o linguajar dos privilegiados  com funcionária de dedicação exclusiva, em tempo integral.

A farda branca, imaculada, não escondia a falta de oportunidades e formação de quem, por vezes, deixava os próprios filhos aos cuidados dos avós, ou ao léu, para cuidar dos outros.

Traziam costumes e dizeres.

Falavam em dialetos incompreendidos na cidade grande.

Neste conturbado tempos pós-pandemia, a reforma da lei trabalhista, a crise econômica e o expediente em home office não têm contribuído para a formação correta da oralidade da meninada.

Além de ter  transformado as secretárias do lar em espécies raras na floresta urbana, a troca dos cuidadores não trouxe melhoras gramaticais nos pré-escolares.

Youtubers e digital influencers devem ser postos sob suspeição, desprovidos que são, de maiores recursos estilísticos na comunicação verbal.

Quando o pirralho ainda por completar dois anos, diante de uma situação frustrante, disse, com toda a propriedade, a locução interjetiva mais usada em Portugal e ex-colônias, para expressar o tamanho do susto, o momento pode ser aproveitado para demonstração da norma culta, do idioma pastorado pelo Profº Pasquale.

Para  o transtorno fonológico não se transformar em dislexia, é aconselhada a correção das letras trocadas pelos aprendizes.

Ouvindo o certo, a criança deixa de  falar de forma incorreta.

O segredo do sucesso é a paciência do professor.

Repetir.

Não cansar de corrigir.

Repetir.

Mas se faltar fleuma e saco, não há outra coisa a fazer, senão esbravejar do jeitinho que o pequeno aprendeu com alguém mais crescido.

Pata paliu!

Maternidade (2014) – Lautir

***

Lautir é um desenhista, ilustrador e pintor italiano de 53 anos que trabalha em Milão

(Publicação original em 02/02/2021)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *