QUANDO A CIÊNCIA FALHA
Se o entendimento não é alcançado, para evitar brigas e encurtar a arenga, nada como recorrer aos sábios, doutores das artes e das leis e até aos universitários.
A verdade sempre vence a dúvida.
Há um ano, já avistando o tsunami aquém do horizonte, a fé se amarrava em correntes de orações e promessas a cumprir quando bom tempo voltasse a fazer.
Notícia boa era garimpada onde só havia pirita e desalento.
Entre tantos curandeiros, adivinhões e neo-cientistas, uma boa nova, vinda da matriz, vinculada no mais famoso jornal do mundo, foi um sopro de otimismo e a última esperança que os negacionistas, pelo menos daquela vez, estivessem certos.
Um estímulo positivo para quem acompanhava de longe os relatos de destruição e medo.
Deu no NYT.
Dois pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), acabavam de publicar um trabalho sobre influência do clima na propagação da pandemia.
Como todas as viroses respiratórias, a COVID-19 teria predileção pelos ambientes frios.
Doenças que começavam no hemisfério norte, ao cruzarem a linha do equador, já vinham atenuadas e transformadas em resfriados e não resistiam às mezinhas que nossas avós ensinaram.
O ritual era ciência pura, rezada numa das mais suntuosas catedrais do conhecimento.
As fronteiras, cercadas e protegidas pelo big stick do arrogante presidente, estariam ainda mais invioláveis pelo verão que se anunciava.
A temporada de calor, prevista para começar antes que a contaminação aterrissasse no JFK Airport, seria recebida com festa de liberdade.
Todos entrariam em férias e tudo seria como sempre foi.
O profeta Frank Sinatra continuaria invicto.
Ninguém cantaria modinhas de ninar; o topo do mundo nunca cairia no sono.
Para quem vive nos trópicos, com invernos sem agasalhos, as altas temperaturas e baixa umidade na maior parte do ano, macaquear mais uma novidade do irmão mais rico, desta vez, era um bálsamo.
Os sábios de Cambridge, infelizmente estavam completamente equivocados e redondamente errados.
Não contavam com a astúcia do invasor.
Nem com as suas mutações, cepas e variantes.
Na Ásia, não arrefeceram na estação das monções.
Os ventos e as chuvas torrenciais não afastaram o intruso invisível.
Aqui, debaixo de baixo, a floração das craibeiras foi sinal ignorado.
O clima semiárido das nossas estepes e caatingas não impediu o domínio alienígena.
Vieram de mala e cuia e se aboletaram onde bem entenderam.
Há um ano, não faltavam sabichões para, entre erlenmeyeres, buretas e outros frascos de laboratórios, em poses apocalípticas, pontificarem que passariam dez anos antes que a vacina pudesse ser aplicada.
Ainda bem que cientistas também erram. A favor da gente.
Vacina, já!