QUANDO O ANALISTA POLÍTICO ERRA FEIO
O resultado da eleição para prefeito – sem novidade ou zebra – mal havia sido anunciado, um palpiteiro neófito, em brado ousado, fez previsão a ser conferida em dois anos:
–Viva a nova prefeita!
A mais sem graça e desanimada de todas as campanhas, não teve disputa em diversidade de gêneros, mas manteve a fórmula que se repete há 20 anos.
Eleger dois prefeitos de uma só vez.
Como das outras, neste século XXI, todos os vice-prefeitos de Natal assumiram o cargo, por renúncia ou afastamento do titular.
A primeira experiência sem coligações partidárias, obrigou o lançamento de chapas puros-sangues, mas segundo o pitoniso de Morro Branco, não seria quebrado o feitiço do eleito não cumprir o inteiro mandato.
Pelo vaticínio, a advogada e cientista social Aíla Ramalho Cortez já podia encomendar o tailleur da segunda posse.
Em um ano e meio, seria promovida a titular, e podia iniciar a campanha pela própria reeleição, na continuação do movimento dos círculos concêntricos, onde a roda grande passa por dentro da pequena.
Predição baseada na evidência que não foi desenvolvido repelente capaz de afastar da testa de quem recebe uma votação arrasadora em Natal, o pouso da mosca azul com as asas douradas de funções mais elevadas.
Os resultados recém anunciados não se distanciaram dos esperados.
Os institutos de pesquisas haviam acertado todas as projeções.
Se bem que alguns, auto- financiados, tenham evitado explicar o erro na ordem das colocações.
Quem iria se preocupar com aquilo, se as planilhas que contam, já estavam sendo negociadas no mercado futuro?
Depois da decepção com os outsiders, quem é do ramo já está plenamente recuperado da desconcertante dose de kryptonita cívica
O jogo foi mais uma vez, zerado.
–Cada eleição é uma eleição.
De dois em dois anos, acolhe todo mundo, até que as urnas comecem, de novo, a ranger seus dentes afiados.
A maneira como a pandemia foi enfrentada, se fez diferença na reeleição tranquila do burgomestre, parece ter evanescido logo os anticorpos que garantiriam forças suficientes para sair na frente da corrida prestes a começar.
Indeciso, sem assumir posição definida no grid de largada, o prefeito Álvaro Dias perdeu o timing e não deverá participar da maratona.
Eleito sem ter pronunciado um único discurso em praça pública, nem abraçado os desocupados e desdentados da Praça Gentil Ferreira, seu capital eleitoral não tem sido adulado, como se incapaz de transferir votos.
Como a nova política foi moda fugaz, voltam as figurinhas carimbadas de sempre, o mesmo tabuleiro do antigo jogo e a chance do jejuno observador político, confiando no domínio do efeito Aldo Tinoco, desta vez, acertar na mosca:
–O filho do prefeito já pode se considerar, deputado estadual.