4 de maio de 2024
Comportamento

QUANTO DESMELHOR, PIOR

Domingo (1926) – Edward Hopper – Coleção Phillips, Washington, Estados Unidos


Não é difícil constatar em qualquer supermercado, que a fila ao lado sempre anda mais depressa que a nossa.

Ao transformar observações da vida cotidiana em princípios científicos que  pareciam absurdos em 1949, um engenheiro aeroespacial americano não estava imaginando que alguma delas pudesse ser comprovada  por um país inteiro e suas 212 milhões de almas penadas.

Ninguém tem dúvidas sobre o  princípio geral que desencadeou as incontáveis Leis de Murphy:

Se algo pode dar errado, dará.

Onde nada vem dando certo, desde o achamento pelos portugueses e sua caravelas em viagem à Índia, a segunda lei é cláusula pétrea, se não da carta magna, na vida real:

Nada pode estar tão ruim que não possa piorar.

Quando reclamavam ao Dr. Ulysses Guimarães a qualidade dos parlamentares que chegavam em Brasília a cada quatro anos, ele pedia que aguardassem a próxima eleição.

A legislação murphyniana resistiu ao rastro de destruição da pandemia.

Não se sabe se foi o fundo do poço ou o pico da curva que se distanciou tanto da linha da base, que mesmo quem previa um novo patamar para a normalidade, tem  de recorrer a neologismos.

As coisas ruins não melhoram mais.

A convicção que antes do desfecho final, os doentes apresentam o fenômeno da melhora da morte,  abortam qualquer sinal de otimismo.

Quem ousava dizer que o bom era inimigo do ótimoagora sonha com o regular e se contenta com o sofrível.

Depois de perambular por colunas de jornal e comentários de TV, entra na fila dos dicionários, um novo verbo que nasce da desilusão.

Despiorar.

Suas conjugações já provocam uma enxurrada de adjetivos, advérbios e substantivos incomuns.

Palavra perfeita para uso por oposicionistas  que sabem, quanto mais cambaleante a Economia, mais votos dos insatisfeitos conquistam.

Pode ser usada também por negacionistas e terraplanistas rendidos à realidade que não cabe embaixo do tapete.

A campanha eleitoral haverá de  confirmar  que não se deve esperar coisa melhor do que temos por aí.

O Deputado Francisco Everardo, no próximo mandato, terá a oportunidade  de apresentar um projeto de lei, revogando seu bordão e as disposições em contrário:

Pior que está, pode ficar.

Quarto em Nova Iorque (1932) – Edward Hopper – Museu de Arte Sheldon, Lincoln, Nebraska, Estados Unidos

(Tema de 14/06/21, revisitado)

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