QUANTO DESMELHOR, PIOR
Não é difícil constatar em qualquer supermercado, que a fila ao lado sempre anda mais depressa que a nossa.
Ao transformar observações da vida cotidiana em princípios científicos que pareciam absurdos em 1949, um engenheiro aeroespacial americano não estava imaginando que alguma delas pudesse ser comprovada por um país inteiro e suas 212 milhões de almas penadas.
Ninguém tem dúvidas sobre o princípio geral que desencadeou as incontáveis Leis de Murphy:
Se algo pode dar errado, dará.
Onde nada vem dando certo, desde o achamento pelos portugueses e sua caravelas em viagem à Índia, a segunda lei é cláusula pétrea, se não da carta magna, na vida real:
Nada pode estar tão ruim que não possa piorar.
Quando reclamavam ao Dr. Ulysses Guimarães a qualidade dos parlamentares que chegavam em Brasília a cada quatro anos, ele pedia que aguardassem a próxima eleição.
A legislação murphyniana resistiu ao rastro de destruição da pandemia.
Não se sabe se foi o fundo do poço ou o pico da curva que se distanciou tanto da linha da base, que mesmo quem previa um novo patamar para a normalidade, tem de recorrer a neologismos.
As coisas ruins não melhoram mais.
A convicção que antes do desfecho final, os doentes apresentam o fenômeno da melhora da morte, abortam qualquer sinal de otimismo.
Quem ousava dizer que o bom era inimigo do ótimo, agora sonha com o regular e se contenta com o sofrível.
Depois de perambular por colunas de jornal e comentários de TV, entra na fila dos dicionários, um novo verbo que nasce da desilusão.
Despiorar.
Suas conjugações já provocam uma enxurrada de adjetivos, advérbios e substantivos incomuns.
Palavra perfeita para uso por oposicionistas que sabem, quanto mais cambaleante a Economia, mais votos dos insatisfeitos conquistam.
Pode ser usada também por negacionistas e terraplanistas rendidos à realidade que não cabe embaixo do tapete.
A campanha eleitoral haverá de confirmar que não se deve esperar coisa melhor do que temos por aí.
O Deputado Francisco Everardo, no próximo mandato, terá a oportunidade de apresentar um projeto de lei, revogando seu bordão e as disposições em contrário:
Pior que está, pode ficar.
(Tema de 14/06/21, revisitado)