15 de maio de 2024
Política

QUEM NOS REPRESENTA

Parlamento devolvido (2009) – Banksy – Coleção particular.                                                                            ‘Devolved Parliament’, também conhecida como ‘Parlamento de Chimpanzés’, do pintor secreto de Bristol, foi arrematada por comprador também anônimo, em 2019, por 48 milhões de reais.

 

Há três anos, na aparente calmaria depois do tsunami pandêmico, entre os afazeres do rescaldo, era tempo de conhecer os novos vereadores da capital.

Nas intermináveis meia dúzia de horas da apuração eletrônica, a mais expedita em todo o mundo,  não faltou a suspeita de invasão hacker.

O boato classificado de fakenews, tinha um fundo de verdade.

O sistema de apuração do STE precisou ser defendido em rede nacional,  pelo presidente da corte, reafirmando a independência da internet, a imunidade às interferências externas e a lisura das operações.

Quando saiu a relação dos vereadores eleitos, a constatação que muitos eram desconhecidos, foi a comprovação que o resultado era uma selfie do voto popular.

Não tardaram as inevitáveis comparações com os antigos edis de notável saber jurídico e figurinhas carimbadas do noticiário político e crônica social.

Nas redes de arengas  sociais, incontáveis comentários sobre a falta de representatividade dos ilustres desconhecidos.

Os cara-pálidas nunca  se interessaram por outros clãs de tribos menos glamurosos, que habitam nossos territórios originais mais inóspitos.

Dissimularam preconceitos contra quem traz para a casa de debates da cidade quase metrópole, o pensar das mais variadas segmentos da sociedade.

Não levavam em conta, uma das virtudes do pluripartidarismo.
Oportunidade facilitada a quem quiser entrar na política.

Não faz muito tempo, nossos periódicos reservavam para as edições que se seguiam as convenções partidárias, amplos espaços  para as lamúrias dos excluídos.

Eram muitos os excedentes das nominatas de um punhado de partidos, sem contar os longos anos, com apenas dois, e suas sublegendas.

Pessoas que os caciques dos partidos não viam capazes de angariar votos ou atrapalhavam os redutos dos aboletados no poder, encontram agora, lugar na comitiva.

A multiplicação das legendas, algumas delas,  sem feitores, tem dado chance a quem se dispõe a gastar saliva e sola de sapato, na transformação de amizade, parentesco, compadrio e trabalho voluntário, em voto.

Nem a promoção dos velhos cabos eleitorais a lideranças; nem as eleições de conselheiros tutelares e comunitários, são suficientes para evitar que mais de mil natalenses desejem disputar uma das 29 cadeiras no parlamento municipal, no pleito do próximo ano.

As urnas resistirão  aos  ataques dos terroristas digitais, e haverão de  arrumar as peças em mosaico, para formar o assoalho por onde os cidadãos caminharão por quatro anos.

Na composição atual, de tantos  marinheiros de primeira viagem, as marcas marcantes da mudança.

A falta em plenário, de representantes de algumas profissões puxadoras de votos.

Nenhum médico; nenhum dentista.

Sem locutores de rádio; sem comunicadores sociais.

Ausentes,  os epítetos que revelam as ocupações dos zés-da-padaria ou a origem das fafás-de-igapó.

Uma bancada desprovida dos militares que costumam buscar pelo voto,  patentes mais altas.

Na última vaga, um professor universitário em vez da professorinha primária, de primeiríssimo lugar.

Não foi nesta legislatura que  a casa das sete mulheres  abrigou pessoas transgêneras,  pela primeira vez.

Carnaúba dos Dantas havia chegado na frente.

O perfil é jovem e conservador.

As novidades dos mandatos coletivos, acontecências de  alhures, ficam  para as próximas vezes.

Com a não reeleição dos mais extremados, desenhava-se um grupo centrado.

Mas ainda não ficamos livres dos  destemperos, despautérios e sopapos.

Para a próxima vez, do que se pode prever, só  a tranquila maioria da bancada do prefeito e um vereador a quem se queixar.

Um bispo da universal haverá de ser eleito.

Manhã Quebrada – Banksy – Casa de fazenda em ruínas, demolida em 2023 – Herne Bay, Kent, Reino Unido.

 

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