10 de maio de 2024
Política

SAÚDE QUE NÃO INTERESSA

Descobrimento do Brasil (1956) – Cândido Portinari – Museu do Banco Central, Brasília


O tabu de não se tocar no estado de saúde dos candidatos é uma tradição da política brasileira, resistente às campanhas mais acirradas.

João Café,  o primeiro e único presidente que as Rocas deu à República, foi afastado do comando da nação por conta de doença.

No tempo em que infartar era bilhete azul para a aposentadoria por incapacidade física.

Conta o folclore político que o senador piauiense Petrônio Portela, em alta para assumir o Ministério da Justiça do General Figueiredo, soube que o convite não mais seria feito por se encontrar hospitalizado.

Ao visitante e portador do desconvide, mostrou ser um homem destemido, talhado para o cargo.

Que não seja por isso.

Arrancou o soro do braço, e deixou o hospital à revelia das ordens médicas.

Só não foi o ungido para disputar as eleições indiretas contra Tancredo Neves, outro alcançado por destino trágico, porque um segundo infarto foi fulminante.

Foi o semi-ditador equestre quem começou a desmistificar problemas de  saúde como impedimento ao comando do governo, quando enfrentar uma cirurgia de ponte safena era coisa de outro mundo, pra ser feita prá lá de Cleveland.

Único presidente por quatro mandatos, Franklin Roosevelt foi eleito para o primeiro, depois de ter sido Senador e Governador de Nova Iorque, já em  cadeira de rodas.

Conduziu o país na recuperação da grande depressão econômica e durante toda a segunda grande guerra.

À sua deficiência, devem muito, o desenvolvimento da fisioterapia e a criação da vacina contra a poliomielite.

Depois de dar tantas chances ao azar e cutucar o cão com vara curta, o ex-presidente Trump trouxe a questão para o centro da disputa política mais acompanhada do mundo.

Não capitulou à  humilhante maca, dispensando também o helicóptero-ambulância.

Foi se internar com roupa que poderia usar na posse para o segundo mandato, sem esquecer a maquiagem.

Há quatro anos, uma facada pública e filmada por muitos ângulos, no bucho de  um candidato, foi atestado de dispensa aos debates.

Garantiu o improvável segundo turno e a vitória final do azarão, contribuindo para mais um daqueles mistérios que serão arquivados na mesma pasta com as provas que Elvis não morreu.

Deva-se a  Floriano Peixoto e à fé inabalável nos vices, o esquecimento dos prontuários médicos nesta corrida eleitoral.

Ninguém se interessa em saber quem parece mais saudável: o general de pijamas ou o insípido queridinho dos banqueiros.

Descobrimento do Brasil (1956) – Cândido Portinari – Museu do Banco Central, Brasília

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