4 de maio de 2024
Opinião

Sem líder, a Oposição do RN não encontra o seu candidato

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A situação da liderança política no Rio Grande do Norte, depois da era Vargas, é muito semelhante a da propaganda de um medicamento de grande consumo feminino na época, o Regulador Xavier:

-“Número 1, excesso; Número 2, escassez”.

No Século passado, o RN tinha excesso de líderes, desde a redemocratização de 1946, quando os dois partidos foram formados aqui, a  partir de sólidas lideranças:

O PSD, com a trinca João Câmara, Georgino Avelino e Theodorico Bezerra;

A UDN, comandada por José Augusto Bezerra de Medeiros, Juvenal Lamartine e Dinarte Mariz.

Até ´60, quando Dinarte exerceu a plenitude da liderança da UDN, e o PSD foi buscar uma nova liderança, nas hostes adversárias: o deputado – e governador – Aluízio Alves.

–   A política potiguar era um fato local, mesmo atuando em partidos nacionais..

Foi assim até o tsunami político de 1964, quando os militares assumiram o poder com o apoio dos dois líderes locais com uma tese marota: – Divergências no plano local e convergência no âmbito nacional.

SOBREVIVER PRIMEIRO

Em declínio político Dinarte segurou-se nos governos militares como sua tábua de salvação e com eles ainda conseguiu dois mandatos de Senador.

Aluízio, em ascensão, sempre teve uma posição desconfortável com os militares.

Escapou de ser cassado logo em 1966 por uma ação corajosa do Governador do Estado, Monsenhor Walfredo Gurgel, junto ao marechal Castelo Branco, mas teve de abrir mão de uma eleição tranquila para o Senado, e continuou Deputado Federal.

O “excesso” de lideranças política no RN, passou a ser tema de estudos do Estado Maior do IV Exército (com sede em Recife e ação em todo o Nordeste), que em 1970 escolheu um Governador do Estado, Cortez Pereira, lhe dando cumulativamente a atribuição de Líder do RN.

Cortez aceitou e ainda recebeu formalmente a liderança de Dinarte Mariz numa festa popular no dia de sua posse.

Só Cortez acreditou…

Isso prorrogou a vida dos dois líderes autênticos até o fim da vida deles. Os dois encaminharam os seus filhos para a política. Aluízio cassado, e Dinarte, “senador biônico”, o exemplo do líder sem voto.

Nesse meio tempo, a escolha de Tarcísio Maia (mais Lavoiser Maia e José Agripino) no Governo que herdou a liderança de Dinarte (Cortez, coitado, terminou cassado pelos militares que não toleraram sua independência).

E Aluízio ficou dono do MDB se acertou com Tarcísio “pelo bem do Rio Grande do Norte” fazendo a Paz Pública.

NA ONDA DE BOLSONARO

A onda da “nova política” de Bolsonaro, pegou o sucessor da liderança de Aluizio, Henrique Alves (depois de perder a eleição para Governador), sofrendo os efeitos do denuncismo do “Lava Jato”, preso quase um ano  sem condenação.

De Dinarte, o pouco que restava de sua liderança, estava diluído, com o senador José Agripino que parece ter aceito de bom grado o fim de sua missão política no vendaval de denuncismo que sacudiu o país.

Para não ficar à deriva, a bandeira de Bolsonaro terminou nas mãos de um militar da reserva, que nem residia no Rio Grande do Norte, onde havia sido nomeado Secretário da Segurança e Secretário da Segurança da Prefeitura de Mossoró, o general Eliezer Girão, que tendo por base um expressivo grupo de militares da reserva, como ele, ganhou um mandato de Deputado Federal com expressiva votação.

Em compensação, o Partido dos Trabalhadores conquistou o Governo do Estado com a professora Fátima Bezerra, uma militante do movimento sindical que já havia sido Deputada e Senadora envergando as cores do PT e guardado total identidade a Lula.

OLHE O CALENDÁRIO

Isso está acontecendo quando o calendário registra o aniversário de um fato importe para exame das lideranças políticas estaduais, no momento em que os mais respeitados analistas concordam com a falta de líderes na política do RN.

Tanto que, faltando menos de nove meses para a eleição, a oposição ainda não tem um candidato a Governador.

E se não acontecer uma reviravolta, a atual Governadora, na verdade uma dedicada militante de um partido político – o PT – por razões ideológicas e de política nacional, sobretudo, pode ganhar a eleição por WO, ou seja: falta de adversários.

Esta semana completa 53 anos da cassação de um desses dois grandes líderes do Estado, Aluízio Alves.

Sendo necessário registrar que essa cassação não apagou a liderança de Aluízio. Pelo contrário. Legalmente proscrito da vida pública ele se reinventou.

Foi para a iniciativa privada. Abriu as portas da política para uma nova geração, “o jardim da infância do MDB”, reconquistou nas urnas o mandato que lhe tomaram e ainda foi Ministro de Estado nos Governos Tancredo/Sarney e Itamar Franco, sendo um dos artífices do projeto de Transposição das Águas do Rio São Francisco.

A FALTA QUE FAZ

Na Oposição ao Governo Fátima, a falta de candidato é atribuída à falta de liderança. Mas, como já foi dito aqui mesmo, líder não é uma escolha que possa ser delegada como imaginaram os coronéis do IV Exército com Cortez Pereira.

É uma conquista num jogo sem regras escritas que exige completa dedicação para ser exercida.

No Regime democrático as eleições, muitas vezes, terminam sendo uma maternidade de líderes…

Se há uma concordância geral de que estamos sofrendo com a escassez de líderes surge a esperança de que, da próxima eleição pode, além de um Governador, o RN também possa ungir um novo Líder.

E este, necessariamente, pode até não ser o Governador sacramentado nas urnas. Como trata-se de um tema difícil de ser explicado, para concluir,  recorro a qualificados acadêmicos que estudam a matéria:

Estudo da PUC-SP mostra a complexidade da liderança:” O líder político personifica os interesses políticos em disputa, em torno de sua figura são construídas as relações de poder. A liderança política pode ser exercida de diversas formas e assumir diferentes formatos, o que coloca em debate o significado e o papel dessa liderança política. Nas disputas políticas nas sociedades democráticas, ou mesmo em sociedades não democráticas, a figura do líder político é expressiva dentro dos processos políticos contemporâneos, pois canalizam as ações políticas e conduzem as operações e negociações políticas e econômicas. “

 

 

2 thoughts on “Sem líder, a Oposição do RN não encontra o seu candidato

  • Ary Maia

    É nessa hora que a saudosa guerreira Wilma faz falta! Articuladora, corajosa, estrategista e gostava do povo!
    Não tem candidato para vencer Fátima! Primeiro; um monte de medroso, Segundo; não vejo ninguém com capital eleitoral melhor que o de Fátima e Terceiro; com todas as dificuldades, ele vem Governando razoável e sempre em prol dos vulneráveis e trabalhadores, dentro das possibilidades dos tempos atuais.
    Não sou petista, voto no Ciro, mas para governo estou com Fátima! Federal Rafael Mota! E caso Ciro não consiga ir ao Segundo turno, o meu voto será de um qualquer, menos no Bolsonaro!

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  • Maria das Graças de Menezes Venâncio

    Ótima análise. Uma retrospectiva da política local. Surgirão lideranças ou já surgiram. Volto no Ciro ou no Dória. Em Bolsonaro, jamais e muito menos no Lula. Mas, para governador daqui vou analisar. Acho que ontem nas homenagens a Bolsonaro o Ezequiel Ferreira de Sousa foi inteligente não se expondo a um comício sobre um tema já desgastado da transposição do São Francisco.

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