SOLON VIVE!
Crítico mordaz das relações de trabalho médico, o anestesista goiano, Solon Maia, graduado pela UFRN na turma de 2007, desenhista, cartunista, youtuber, resumiu em dois posts o maior problema que o médico brasileiro já enfrentou.
O que se tem em Goiânia e Anápolis não é mais nem menos do que se tem em Natal e Mossoró.
No último concurso para intensivistas da secretaria estadual, há dez anos, nenhum especialista se inscreveu. A exigência do título teve de ser suprimida em novo edital.
A Covid-19 não para de mandar mensagens.
Só não entende, quem não quer.
Matem a charada.
Estádios de futebol transformados, às pressas, em hospitais.
O texto acima, parte do post Respirando por Aparelhos, publicado em 24/03/2020, tratando da realidade das nossas UTIs, não teria como prever a saga enfrentada pelo seu principal colaborador.
Pertencente ao grupo de maior risco, médicos que fazem intubação endotraqueal, foi acometido da Covid-19.
Continuou postando os próprios exames e pedindo opiniões dos colegas.
Até a tomografia mostrar lesões em vidro fosco em mais de 50% dos pulmões.
Em 23 de dezembro, internado há 16 dias, o último contato e nas entrelinhas, a informação que iria precisar de cuidados intensivos e do procedimento que tantas vezes fez e o contaminou.
Não houve trocas de mensagens natalinas nem desejos de feliz ano novo.
As notícias raras, os colegas de turma acompanhando de longe e o nome em grupos de orações de quem nunca havia esboçado um sorriso com o humor ferino dos Meus Nervos.
UTI, diálise, traqueostomia, nutrição parenteral, drogas vasoativas, transferência para centro médico mais completo.
Brasília, hospital de referência para políticos, magistrados e altos oficiais da burocracia estatal.
Tabelas do plano de saúde multiplicadas em cauções e pagamentos semanais.
Fabricia, cuidou das finanças.
Gastou tudo que o precavido marido, investidor disciplinado, havia aplicado em ações, CDBs e debêntures
Os amigos ajudaram, uma rifa vendeu todas as cartelas, o pix foi generoso.
A ECMO, oxigenação por membrana extracorpórea, a última fronteira da tecnologia da Medicina Intensiva, pediu música no Fantástico.
A baixa-mar era o prenúncio que a maré voltaria a encher.
As melhoras progressivas comemoradas em emojis de sorrisos e lágrimas de alegria; aplausos e mãos em preces digitais.
A preamar na volta para casa depois de cinquenta dias (quarenta, em ventilação assistida) foi uma festa celebrada pelos corações aliviados de tantos novos amigos que não se pode contar.
A torcida continua na certeza que a longa estrada da recuperação acaba em breve.
As tirinhas fazem falta.
Viva Solon!
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