TORCIDA FRUSTRADA
O assassinato do ex-primeiro ministro japonês Shinzo Abe, a pré-renúncia de Boris Johnson e o incidente em Foz do Iguaçu, trazem à lembrança o artigo de Hélio Schwartsman publicado há dois anos nas páginas da Folha de São Paulo.
”Porque torço para que Bolsonaro morra.”
Na época, o título chamou a atenção muito mais que o conteúdo.
Sem adjetivos que indicassem sentido figurado, a palavra final mostrava seu peso, na carga de tabu que a velha senhora carrega sobre ombros encurvados.
Já disseram que a libitina é a responsável maior pela Filosofia,que só existe por sua causa, certeza e enigmas.
O que foi externado no polêmico artigo, entendido como ódio, continuou sendo destilado nas redes sociais, acrescido de multiplicados e repetidos motivos.
“O sacrifício de um indivíduo pode ser válido, se dele advier um bem maior”.
A justificativa ética, a mesma das antigas religiões e modernos fanatismos, aceita e acredita nos poderes do sacrifício humano, mas não foi acolhida, nem se fez realidade.
A doença do Presidente , motivo do desejo mórbido, foi branda e a convalescença, curta.
Não houve sequelas, nem mudanças no comportamento do recuperado.
Mundo afora, os responsáveis pela enfrentamento do inimigo comum começavam a ser avaliados pelo voto popular, antes do julgamento da História.
Donald Trump, o mais poderoso de todos os homens, acabou substituído contra as previsões, derrotado pela própria arrogância e cegueira científica.
Para nós, o novo tempo de planejar a restauração chegou, sem que surgissem novidades na troca do condutor.
Todas as pesquisas pré-eleitorais desanimam os que acreditavam que o próximo mandatário seria um moderado que pudesse encurtar distâncias entre extremos.
Que não atiçasse ainda mais o fogo das paixões que continuam queimando as últimas esperanças.
Que soubesse usar unguentos para cicatrizar as feridas abertas nos seios e nas almas das famílias.
A premonição e o exemplo que vinham do norte perderam-se no imenso triângulo das bermudas que nos separa e afunda num mar de insensatez.
Quatro anos depois de deixar o cargo, Barack Obama contava 60.
Os democratas não tinham um candidato com maior potencial de votos, mesmo assim foi encontrada uma terceira via, no secular sistema eleitoral de apenas dois partidos.
O adversário já havia sido derrotado de véspera, pelo despreparo, descontrole e teimosia.
Por que insistimos em seguir o rastro dos vizinhos mais próximos, e que já perderam o rumo?