3 de maio de 2024
Coronavírus

TURISMO EM CASA

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Quem já passou pelo aeroporto de Frankfurt e deixou registro na porta do banheiro ou no site do  wi-fi  grátisestá recebendo uma simpática mensagem:

Caro amigo do aeroporto:

Cansado de escritório em casa, férias na sua varanda e bate-papos por vídeo?

Nós sentimos por você.

Após uma falta tão longa de viagem, estamos lentamente começando a parecer as fotos em nossas identificações – e ninguém quer isso.

Antes do próximo suco de tomate no ar, estamos redefinindo tudo e aguardamos nossa próxima jornada, de acordo com o lema: “trocar papel higiênico por jet lags”.

Humor germânico à parte, como será o turismo depois que tudo isso passar?

Haverá interesse em viajar para tantos lugares, depois que todos ficaram tão iguais, ou Ponta Negra será só nossa de novo?


(Publicação original em 15/05/2020)

                         SALVE SANTIAGO

Quando a indústria  sem chaminés ainda era devaneio, Ponta Negra  já parecia  fadada à jóia da futura coroa.

Deixava de ser só praia de verão e destino de excursão de farofeiro, para receber os primeiros viajantes. Atraídos pelas águas mansas, um belo morro de areia e novos equipamentos gastronômicos.

Se é que se pode classificar assim as barracas cobertas de palha que  guardavam pequenos barcos de pesca e nos fins de semana viravam  bares e restaurantes.

Improvisados, rústicos, pobremente equipados e meio selvagens.

Homens do mar, depois barmen. Donas de casa, chefes de cozinha.

Um deles criou fama. E point de descolados e alternativos.

Pescador, morador da Vila,  Santiago foi o mais bem sucedido entre os dinossauros do receptivo praieiro.

Sua clientela, jovens, famílias com crianças e quem mais chegasse procurando o sossego de uma praia semideserta.

Cardápio reduzidíssimo, com pièce de résistance, caranguejo ao molho de côco.

A família que ocupou uma mesa próxima, não levava o menor jeito de ser nativa.

Pareciam turistas acidentais.

Estudavam o ambiente e os silvícolas como se quisessem se comportar, na Londres nordestina, como os londrinos.

Mal equilibrado no tamborete bamboleante, um menino   observava como os crustáceos eram esquartejados. Não se conteve e soltou o comentário demonstrando a perplexidade dos visitantes com o ambiente inóspito, cozinha excêntrica e os quase canibais:

-Mãe, eles comem até o cérebro!

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