6 de maio de 2024
Carnaval

UM CARNAVAL PARA NÃO SER ESQUECIDO

Arlequin (1888) – Paul Cézanne – Galeria Nacional de Arte, Washington, EUA


Enquanto pensadores e filósofos estavam
dizendo que o mundo e o comportamento da humanidade não seriam mais os mesmos depois da pandemia, muitos, céticos, discordavam.

Os otimistas viam as grandes perdas e sacrifícios como bases para as  mudanças.

Que os tempos que estavam chegando, seriam diferentes. Melhores. Mais fraternos.

O novo normal não havia começado ainda,  mas havia sinais que novas atitudes já estavam sendo tomadas.

Quem poderia prever que naquele ano o carnaval seria tão diferente.

Simplesmente, cancelado.

Sem protestos, velório, choro nem vela.

As cifras fabulosas de movimentação da economia, apresentadas pelos governantes para justificar gastos do dinheiro público, igualmente fantásticos, não foram nem calculadas.

Um ano sem partido-alto, sem marchinha de costumes, sem outras máscaras, sem folia, sem viagens, sem blocos, sem retiros espirituais.

Não há registros que antes, alguém tenha imaginado tanta falta

O mais parecido que se tem notícia é de outra era de semelhantes medos e incertezas.

A guerra avançava na Europa fazia dois anos e chegava a vez do aliado entrar na luta.

Não era esperado que naquele clima, se tivesse ainda disposição e ânimo para a explosão de alegria que a festança precisa para fazer jus ao nome.

A participação brasileira já nas cenas finais do longa-metragem, com duração de onze meses, ao custo de 500 vidas, garantiu o lugar na história e na galeria de vitoriosos, mas não chegou a atravessar o samba.

A retaguarda não interrompeu os festejos.

Os que ficaram, zombavam do inimigo distante, celebrando a vida, e sonhando com a paz.

O conflito com dimensões mundiais não foi capaz de interromper três das mais populares instituições nacionais.

O samba desceu o morro, o futebol conheceu seus campeões e  o jogo-do-bicho  manteve a fé inabalável na deusa da boa fortuna.

Não se podia imaginar tragédia maior ainda, que  viria a acontecer 80 anos depois, estivesse sendo prevista, cantada em ritmo de triste marcha-rancho.

Os acertos premonitórios do maior sucesso do Carnaval de 1942 é um hino de esperança que os piores momentos estavam passando.

Quando Cyro Monteiro gravou Até Quarta-feira, não estava  contando só mais um desencontro de enamorados.

Um música não  foi reprisada no Carnaval de 2022, como poderia ter sido.

O registro dos tambores silenciosos foi a lembrança que como aquele, nenhum outro voltaria a acontecer.

A brincadeira, junto com as fantasias, ficaram guardadas para quando bom tempo fizesse.

Este não ano vai ser,

Igual àquele que passou,

Eu não brinquei,

Você também não brincou,

Aquela fantasia,

Que eu comprei ficou guardada,

E a sua também, ficou pendurada”.

A profecia se completou como um alerta para os cuidados que continuariam sendo necessários mesmo com grande parte da população protegida pela vacina.

Foi possível brincar sem desrespeitar o recomendado distanciamento.

“Mas este ano está combinado,

Nós vamos brincar separados.”

A certeza que os resultados apareceriam, estva bem definida.

Ninguém mais vai chorar a perda de um ente querido.

“Se acaso meu bloco,

Encontrar o seu,

Não tem problema,

Ninguém morreu,

São três dias de folia e brincadeira,

Você pra lá e eu pra cá,

Até quarta feira.”

O Carnaval 2021 nunca será esquecido.

Evoé!

Mardi Gras / Pierrot et Arlequin (1888) – Paul Cézzane – Museu Pushkin, Moscou, Rússia

 

Assista o clipe na voz de Marcos Moran:

Até Quarta-feira.wmv

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