5 de maio de 2024
História

UM DEDO NA DÉTENTE

76CDFB08-C485-4A21-ACB9-06B4DD869809

Toda moda quando não começa, passa ou termina na França.

Na política, é quase a mesma coisa.

Se os franceses não são mais  protagonistas, continuam como inevitáveis  coadjuvantes.

Nos anos 70, o acirramento das relações entre Estados Unidos e União Soviética só foi abrandado com um toque francês. Pelo menos na palavra-síntese das  intenções, negociações e ações que afastaram o mundo de outra guerra mundial.

Détente.

Abaixo do equador, sem um Gorbatchov, íamos de Geisel.

Tão carrancudo mas muito mais arejado que seus antecessores, sentiu e assimilou os ventos internacionais.

Lenta e gradualmente, preparou a volta dos militares aos quartéis.

De onde só vieram a sair de novo, mais de 30 anos depois, sob comando de um reles capitão da reserva, com menos de dez anos de caserna.

Mas esta é outra história (ou será estória?) a ser contada pelas interceptações e vazamentos  de mensagens criptografadas em  aplicativos de smartphones.

Traduzida, a palavra-chave logo foi incorporada ao linguajar de  scholars, políticos, jornalistas e pinguços de botequim.

Distensão.

Como tudo que surfa na crista da onda, a atmosfera de liberdade era sentida do Leblon a Belfort Roxo. Das Rocas às Quintas.

Até mesmo no atendimento da clínica de luxo preferida pelos chics e poderosos da segunda capital.

Ex-vice-presidente da República, o quatro estrelas  de pijama que já começava a  trocar a frequência da Rádio Globo pela Tupi, é internado na urgência e precisa de uma sonda para alívio da retenção urinária.

Material pronto. O plantonista calça as luvas mas antes de pegar no, digamos assim, instrumento, é interrompido pelo ajudante de ordens que se apresenta como tenente-médico.

Ordenando que apenas o professor-doutor poderia fazer o procedimento.

Ainda não tinha caído a ficha do ordenança mas naqueles novos tempos já auscultavam-se pela ruas, os estertores da ditadura. E vice era vice. Quanto mais, um ex.

O que explica a contraordem do comandante em chefe da equipe médica.

Sem tempo nem paciência para certas exigências e a agenda do consultório  cheia de encaixes, a bexiga prestes a explodir teria que ser esvaziada pelo  jeune docteur.

Que aproveitou a ocasião e pra não deixar o serviço pela metade, foi fundo no exame da próstata da ex-sub-autoridade.

Chico Buarque – Jorge Maravilha

Julinho de Adelaide (1974)


18126B73-C3E9-4722-BC19-03395DC943F9

“Geisel não gostava de Chico mas Amália gostava”

(Publicação original em junho/2020 com o título Ex era Ex)

One thought on “UM DEDO NA DÉTENTE

  • Um atento leitor, estudioso da história contemporânea faz uma correção na arma do examinado, já devidamente providenciada pelo editor de texto.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *