1 de maio de 2024
Comportamento

UM EXAGERO DE PIRÂMIDE

Abaporu (1928) – Tarsila do Amaral – Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (MALBA)                      *** Avaliado em 40 milhões de dólares, é o mais valioso quadro de artista brasileiro


As pirâmides financeiras não param de aparecer no horizonte.

Agora, edificadas  por  gênios alquimistas que transformam qualquer poupança de tia solteirona,  em máquina de multiplicar dinheiro.

Em bitcoins ou qualquer outra moeda invisível.

Antes que a pandemia ocupasse todos os espaços, o noticiário tinha fôlego para trazer outras estórias de pessoas sem limites.

No interior de Goiás, um golpe de vivaldinos começou com a falsificação de remédios para emagrecer.

Até fugir do controle.

A voracidade da clientela ajudou.

Tanta procura que o jeito foi usar uma britadeira para misturar as substâncias.

Até na logística para a distribuição do produto, a falta de escala e medida.

Uma Ferrari no lugar de furgão.

No oeste da Bahia, um auto-intitulado e improvável cônsul, ganhava nos tribunais, o direto à propriedade de mais de 250 mil hectares de terras.

Ocupadas e produtivas.

O golpe começou pequeno, com questões de fundo de quintal.

Sem freios,  foi dando certo e envolvendo cada vez mais gente mais graúda.

Até o ponto de não dar mais para continuar.

Nem parar.

Nem explicar.

Um jovem de 23 anos foi preso em  um parque aquático de Santa Catarina, por tentar pagar a conta com notas falsas.

Dias depois, foi preso novamente pela audácia em ter pago a fiança com a mesma moeda fake.

Réu confesso em esquema de propinas, o ex-governador carioca – agora, cumprindo pena  em condomínio de luxo no Alto Leblon – confidenciou a um amigo que seu maior erro foi a falta de limite.

Não mostrou arrependimento pelo que fez, só pelo quanto fez.

Perdeu o timing do breque.

Chegou ao  ponto de ter  juntado tanto dinheiro que sua preocupação passou a ser  como guardar tanta grana. Em espécie.

Sabia que não teria  como gastar tamanha fortuna numa única vida.

Passou a ser movido por um incontrolável desejo de ter mais.

E a perder o sono com a preocupação que papel-moeda também mofa.

Exagero não é  produto exclusivo da ambição.

O amor também solta as rédeas.

Um mecânico de Porto Velho ganhou seus 15 minutos de fama e viralizou nas redes sociais, pelo presente de Natal que escolheu para a mãe.

Ao invés de dar um treinamento intensivo à genitora, reincidente reprovada em testes de direção, ultrapassou pela direita e entrou na contramão.

A toda velocidade.

Travestido de senhora respeitável, rosto depilado com torturante cera quente, peruca grisalha, maquiado e até de unhas pintadas.

De carmim.

Tentou se passar pela mãe cangueira.

Na prova de volante, foi descoberto antes de engatar a terceira marcha.

Acabou em audiência de custódia.

Autorretrato ou Le manteau rouge (1928) – Tarsila do Amaral – Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

***
(Contém partes do texto ‘Exageros à parte’, publicado em 17/12/2019)

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