4 de maio de 2024
Comportamento

UM NOVO JOGO CABREIRO

 

Os Jogadores de Cartas (1895) – Paul Cézzane – Museu de Orsay, Paris

A polêmica é antiga e sempre  motivo de acirramento de ânimos.

Se os chamados jogos de azar devem ser legalizados.

Os de sorte estão aí,  arrecadando dinheiro para o governo, sem causar males aparentes e não são mais nem questionados.                      

Viciados numa fezinha, enfrentam longas filas e gastam uma boa parte dos salários só para não perder o direito de sonhar.

Com uma bolada da mega, quina, timemania, lotofácil e outros menos sortudos.

Jovens bons em matemática trocam os cursos de graduação pela promissora profissão de jogador de poker. Online.

A proibição não evita mais nada. Cada notebook uma roleta, todo smartphone,  um slot.

A febre da hora são as casas de apostas online.

Começaram pelo futebol, com o palpite simples de quem ganha o jogo, para evoluir para outros detalhes do ludopédio: que time ataca mais ou cobra o maior número de escanteios.

Para os outros esportes foi um pulo, até chegar às disputas eleitorais.

Depois do palpite dos candidatos que afunilaram para o segundo turno, chegou a hora da grande final.

A corrida presidencial tem mudado o status das predições dos velhos contratos garantidos a fios de bigodes que animaram tanto as campanhas da velha política.

Hoje têm posição  refinada, competindo com os institutos de pesquisas na previsão da verdade não auditada que sairá das urnas eletrônicas.

Houve um tempo  que, legalizados ou não, salões de carteado  funcionavam livremente.

Mais honestos que os grandes cassinos que cientificamente, determinam previamente qual o percentual de lucro de cada equipamento, sem dar bolas para a urucubaca.

O valor das apostas selecionava os adversários.

Na falta de quórum, profissionais podiam ser acionados, sem prejuízos para as apostas.

Cabreiro era profissão reconhecida. Sem direito a assentamento na carteira profissional.

Nos fundos do bar, num recinto sem ventiladores e de janelas semi-fechadas para que o vento não revirasse tudo, o calor e frio eram regulados pela emoção da carta chorada, que vinha ou teimava em não vir.

No tempo em que o pif-paf era chamado de relancinho, dos notáveis da paróquia, só o padre não era praticante. Mas nada impedia que vez por outra aparecesse um vigarista.

A sequência de rodadas naquele começo de noite foi subitamente interrompida pelo moleque de recados.

O único médico da cidade, com o jogo armado e a sorte promissora , ao saber que estava sendo aguardado com urgência no hospital, esbravejou:

Isso lá é hora de se quebrar braço!

                                     ***

(Partes deste texto foram publicados em 01/09/2020, com o título Jogo Cabreiro)

 

Os Jogadores de Cartas (1892) – Paul Cezzane – Museu Metropolitano de Arte, MoMa, Nova Iorque
Os Jogadores de Cartas (1892) – Paul Cézzane – Barbes Foundation, Filadélfia, Estados Unidos

O quadro, Os jogadores de Cartas (1890-95) teve várias versões.
Em 2011, uma delas  foi vendida para a  família real do Qatar por cerca de 190 milhões de euros, a obra de arte mais cara já vendida até então.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *