UM PONTO FORA DO TRABALHO
Nos dois anos de trevas e incertezas da pandemia, o distanciamento social fez-se necessário e as pessoas e negócios logo se adaptaram.
Muitos funcionários-colaboradores que passaram a trabalhar à distância, permanecem neste regime por opção das empresas.
No mundo do serviço público, a metereologia é diferente.
Sob trovoadas, ou todos em casa, ou todos nos seus birôs.
Foi só a folhinha marcar as datas do Carnaval do ano passado, para a alegria acumulada explodir em festa, e a engrenagem burocrática entrar em ação.
Na sua lógica peculiar, sem atravessar o ritmo de sempre.
Alguém lembrou que o ócio era o pai de todos os vícios. E que uma mente desocupada não cultivava virtude alguma.
Assim, foram revogados os pontos facultativos que datavam dos tempos da oligarquia Maranhão.
Pouco importava se alguns dias a mais de recolhimento podiam ajudar na contenção da contaminação, a ordem foi aglomerar todos, nos seus locais de trabalho.
Macacas velhas em assuntos de produtividade estatal sabiam que a mudança no curso das águas por onde navegam, lentamente, as imensas balsas carregando pilhas de processos, empenhos, despachos, memorandos e solicitações urgentes, só servem para retardar ainda mais a penosa viagem.
Que em dias de comparecimento opcional, ninguém aparece para remar sozinho.
Os motores são desligados.
Os elevadores permanecem parados, com a manutenção terceirizada, de folga.
Os sistemas caem automaticamente.
O estagiário nerd, quem resolve todos os pepinos, também ausente.
A moça do cafezinho arranja uma desculpas depois que tomar as cinzas que recuperam forças.
Conta o anedotário do serviço público estadual que um alto dirigente, no exercício do mais elevado posto de função comissionada, tendo publicado portaria disciplinando o não funcionamento da repartição nos dias de farra, indagou se era costume a volta à normalidade no segundo período da quarta-feira de cinzas.
A segurança da resposta fez o chefe que queria dar o bom exemplo, antecipar a volta do lazer praiano.
Na hora H, no expediente D, o paletó deixou o espaldar da Giroflex mas a Bic não saiu do bolso.
O tempo passou junto com uma espera razoável e das almas, das vivas, nenhuma apareceu.
Nem para a resenha dos dias de folia ou descanso.
Este ano, tudo volta como dantes no entrudo de Abrantes.
A Velha Guarda do Grêmio Recreativo Unidos do Ponto Facultativo, saúda as autoridades constituídas e pede passagem, mais uma vez.
Evoé!