2 de maio de 2024
Carnaval

UM PONTO FORA DO TRABALHO

Cena de Carnaval (1823), Jean-Baptiste Debret


Nos dois anos de trevas e incertezas da pandemia, o distanciamento social fez-se necessário e  as pessoas e negócios logo se adaptaram.

Muitos funcionários-colaboradores que passaram a trabalhar à distância, permanecem neste regime por opção das empresas.

No mundo do serviço público, a metereologia é diferente.

Sob trovoadas, ou todos em casa, ou todos nos seus birôs.

Foi só a folhinha marcar as datas do Carnaval do ano passado, para a alegria acumulada explodir em festa, e a engrenagem burocrática entrar em ação.

Na sua lógica   peculiar, sem atravessar o ritmo de sempre.

Alguém lembrou que o ócio era o pai de todos os vícios. E que uma mente desocupada não cultivava virtude alguma.

Assim, foram revogados os pontos facultativos que datavam dos tempos da oligarquia Maranhão.

Pouco importava se alguns dias a mais de recolhimento  podiam ajudar na contenção da contaminação, a ordem foi aglomerar todos, nos seus locais de trabalho.

Macacas velhas em assuntos de produtividade estatal sabiam que a mudança no curso das águas por onde navegam, lentamente,  as imensas balsas carregando pilhas de processos, empenhos, despachos, memorandos e solicitações urgentes, só servem para retardar ainda mais a penosa viagem.

Que em dias de comparecimento opcional, ninguém aparece para remar sozinho.

Os motores são desligados.

Os elevadores permanecem parados, com a manutenção terceirizada, de folga.

Os sistemas caem automaticamente.

O estagiário nerd, quem resolve todos os pepinos, também ausente.

A moça do cafezinho arranja uma desculpas depois que tomar as cinzas que recuperam forças.

Conta o anedotário do serviço público estadual que um alto dirigente, no exercício do mais elevado posto de função comissionada, tendo publicado portaria disciplinando o não funcionamento da repartição nos dias de farra, indagou se era costume a volta à normalidade no segundo período da quarta-feira de cinzas.

A segurança da resposta fez o chefe que queria dar o bom exemplo, antecipar a volta do lazer praiano.

Na hora H, no expediente D, o paletó deixou o espaldar da Giroflex mas a Bic não saiu do bolso.

O tempo passou junto com uma espera razoável e das almas, das vivas, nenhuma apareceu.

Nem para a resenha dos dias de folia ou descanso.

Este ano, tudo volta como dantes no entrudo de Abrantes.

A Velha Guarda do Grêmio Recreativo Unidos do Ponto Facultativo,  saúda as autoridades constituídas e pede passagem, mais uma  vez.

Evoé!

Cena de Carnaval (1823), Jean-Baptiste Debret – Biblioteca Nacional da Austrália, Camberra

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