1 de maio de 2024
Coronavírus

UM TABAJARA EM NOVA IORQUE

Banksy – Mural-grafite em Londres – O amor está no ar/Soldado jogando flores  (2005)

Há dois anos, nos dias de vacinas  ferventes, o Ministro da Saúde não havia nem arrumado as gavetas no novo emprego, quando recebeu a primeira tapa na cara.

As reações à sua posse no ministério, cheias de inconfessados preconceitos, pode ser resumida ao vaticínio precoce do cronista e biógrafo Ruy Castro:

Pazuello assinou os óbitos de nossos pais e avós; a Queiroga caberão os de nossos filhos e netos.

O cargo havia se tornado maldito.

Tão efêmero e rotativo que não mais comportava prazos de carência e trégua para a avaliação inicial de desempenho.

A experiência de Nelson Teich, o breve, que mal completou um mês lunar, foi marcante.

Não teve  direito a lua de mel com o poder.

Não lhes foi  reservado tempo de esquentar a poltrona.

Não posou para a foto oficial que ilustra qualquer currículo.

A fatídica reunião pornofônica do primeiríssimo escalão do governo, deixou a vasta cabeleira mais desgrenhada e a certeza que Brasília  não era praia para sua carioquice.

O primeiro beco, apontado pelo colega da Educassão, foi o caminho para o guichê do bilhete azul.

Como numa prova de revezamento onde o último a receber a baqueta é quem deve cruzar a marca final, não se pode dizer que o Ministro Marcelo Queiroga tenha despertado sentimentos positivos.

Já no curto período de adaptação aos labirintos do poder, ainda sem conseguir equilibrar a máscara no narigão, apresentou seu plano, de pauta única:

Vacinar o maior número de pessoas, no mais curto espaço de tempo.

Quando afirmou que muito em breve um milhão de doses estariam sendo injetadas nos  ombros dos brasileiros a cada dia, não houve quem não duvidasse.

Não se sabe o que pensaram os mesmos céticos, quando o objetivo, multiplicado por três, foi  ultrapassado.

Ninguém imaginava que em seis meses, estaria havendo briga para se incluir na fila, adolescentes e crianças que nunca estiveram na fila de espera planejada  para alcançar 80% da população adulta.

O gentio índio cariri sobreviveu a duas reacesas fogueiras da profana inquisição do senado e seguiu determinado, com o exército possível, fiel ao seu comandante, como sói esperar de todo combatente.

Quando acordou, naquela cidade que nunca dorme, no topo do mundo, enquanto cumpria a quarentena para vacinados e não imunes a todas as cepas, virou manchete em inglês.

Por ter reagido com os mesmos dedos aos que iniciaram a guerrilha de gestos considerados por quem apresenta em suas telinhas campeãs de audiência, cenas de corar a freira mais experiente da clausura, obscenos.

Não tinha como  esquecer as raizes sertanejas de Cajazeiras só porque estava passando uma chuvinha ao abrigo de um pé de Big Apple.

Quem mostra o que quer, vê o que não quer.

Mesmo a tigresa do menestrel de Santo Amaro da Purificação .

Na pandemia, não era proibido proibir.

Banksy – Mural-grafite em Londres – Menina com balão/Sempre há Esperança (2002)

Ouça: 

Caetano Veloso – é proibido proibir (LEGENDADO)

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