VISITA AO CLUBE DAS MULHERES EXAUSTAS
O inesperado convite só podia ser engano, fruto de um defeito no algoritmo disparado por algum robô em crise de identidade de gênero.
O Clube das Exaustas, um grupo de WhatsApp só para mulheres, estava com vagas abertas, e promessas de abraços virtuais, dicas sobre autocuidados, finanças e truques pra deixar a vida feminina mais simples.
“Os últimos anos foram duros para todo mundo, especialmente para nós, mulheres.
Veio a pandemia, a crise. Equilibramos o trabalho, os cuidados da casa, as crianças sem escola e a inflação.
Cuidamos de todo mundo: agora precisamos de um espaço para cuidar de nós mesmas”.
Em tempos de empresários miliardários receberem visitas matinais de buscadores e apreendedores, ter as contas bancárias bloqueadas e as redes sociais suspensas, são também de prudência para saber o que anda rolando nos grupos que frequentamos.
Sob chancela da rede de campanhas globais com mais de 70 milhões de pessoas, espalhadas em todos os países, nos 6 continentes (os 5 da geografia do ginásio e mais um), só falta o monocrático aval de algum ministro superior, que nos afaste dos perigos da areia movediça que invade a aldeia global.
A curiosidade masculina venceu o medo.
A intenção de participar do aplicativo de mensagens como voyeur, por um dia, identificado apenas pelo assexuado número do telefone, foi atropelada por mais de 200 postagens, somente na primeira hora.
A sessão começou com um apelo de Rita de Cássia em tom dramático:
“Como vocês podem me ajudar?
Estou deprimida.
Tenho 60 anos.
Meu negocio é um restaurante que ainda não se reergueu da pandemia.
Eu só penso em morrer.”
Choveram mensagens de apoio e a inevitável injeção de esperança:
“Quando se fecha uma porta, é sinal que outra será aberta”.
O grupo de ajuda mútua logo mudou de assunto, quando a saudação inicial foi seguida de revelação ainda mais destruidora:
“Bom dia a todas ☕
Gente, eu tive um surto e derrubei muita coisa no chão. Quebrei minha garrafa e meu filtro de água ?.”
Ninguém teve um conselho melhor que, “da próxima vez, troque a quebradeira por alguns palavrões. Eles não comprometem seu saldo bancário.”
Um rosário de dramas depois, com oferecimentos de ajuda, no privado, por psicólogas, terapeutas, advogadas, coaches e até de uma oficial de justiça, ninguém se ofereceu para orientar a sofrida Maria da Penha.
“Meu marido está desempregado, e fica em casa vendo filme-pornô.
Estou a ponto de matá- lo”.
Quem cala consente?
Continuo me deliciando com os textos do professor Domício. Ele manda bem, em Nova Cruz o MOBRAL era bom de verdade. De lá veio uma cunhada de minha mulher chamada Velúsia que tem um grande coração, sou seu fã. .
Concordo com a opinião de Luciano Porpino que também é muito bom na arte de escrever.