CANÇÃO PARA NINAR AVÔ
Antes de completar dois anos, já aprendeu duas coisas fundamentais para viver bem os anos que vêm pela frente.
Respeitar os limites impostos pelos intransigentes pais que restringem o acesso aos smartphones a vinte minutos por dia.
E escolher o avô como cúmplice na burla à determinação parental.
Sabe muito bem o que quer assistir.
E parece não estar só na blogosfera.
O desenho predileto, em 3D, é o mais acessado canal do YouTube em língua inglesa, com audiência seis vezes maior que as maiores quatro redes abertas de TV. Juntas.
Cocomelon é o terceiro canal com maior número de assinaturas no mundo. Ficando atrás do humorístico sueco Pew-Die-Pie e do musical indiano, T-series.
Com poucos filmes dublados, as canções de ninar, no ritmo cadenciado das músicas de sapateado, hipnotizam as crianças que parecem não ter nenhuma dificuldade para entender os enredos.
As mensagens educativas levam em média três minutos e são apresentadas em sequência, com blocos de meia hora.
Os vídeos ajudam no aprendizado das letras, números, formas, cores, animais, profissões, esportes e tudo o mais que possa prender o interesse dos pequenos de até seis anos.
Não mais de duas dúzias de artistas, contadores de estórias, músicos e desenhistas de animação fazem toda a produção, numa cidade de 250 mil habitantes no sul da Califórnia.
Irvine é também a sede da melhor universidade pública dos Estados Unidos.
Mesmo os nostálgicos das brincadeiras de criança, das bolinhas de gude, de pular corda, dos carrinhos de rolimã, também sentem saudades dos programas de TV de tubo e das imagens chuvilhadas que assistiam com os pais dos netos.
Vila Sésamo, Xuxa, Castelo Rá-Tim-Bum.
Quem há de esquecer?
Netos digitais têm outras necessidades e novos gostos. É tempo de aprender com eles. Nem que seja um pouco mais de inglês.
Foi-se o tempo que o Bozo era só um palhaço na programação infantil.