CARIOQUICES
Quando a capital foi transferida, ficaram no Rio de Janeiro, muitas repartições.
E a cultura do jeitinho e do funcionário público que resolve por fora, engordada desde a época dos governadores gerais.
Não poderia haver berço mais adequado para a criação de esquemas, mensalões, petrolões, desvios dos ouros da copa e das olimpíadas, rachadinhas e tudo o mais que possa encher os bolsos de políticos espertos, empresários audaciosos, juízes venais e executivos globalizados.
O poder de contaminação da cepa carioca do vírus da corrupção é impressionante.
Parece parte da estrutura celular de todos.
Até os outsiders que prometeram a nova política já foram infectados.
(Publicação original em 13/09/2019)
GENTE BACANA
Que são espertos, nem precisava ser dito pela canção.
Nascem craques.
Sabem, como poucos, botar nomes nas coisas.
Ao batizar o esquema secreto dos partidos, o deputado de nervos de aço escolheu a palavra certa que resumia tudo.
São diretos
Uma bolada, coisa grande, poderosa, repetida.
Explicou depois que não havia periodicidade mas isso não fez a menor diferença.
Mensalão.
Quando pegou muita gente.
Já tinha pegado.
Não foi necessário dar o nome dos bois. Só identificou as boiadas que depois, ficou-se sabendo, era todo o rebanho.
De poucas novilhas e muitas vacas. Todas profanas.
A história inteira, todos ficaram pensando que ficaram sabendo.
O resto só agora está sendo contado, aos poucos, por conterrâneo importado que interceptou o making of.
Dito pelo caçador agora caçado, conversas que se tem em círculo de intimidade. Quando se fica à vontade para falar besteira, bobagem, e ser até de certo modo, irresponsável.
Refresco na pimenta dos outros.
São sacanas.
Prática comum em todas as casas legislativas desde o Império, o pedágio cobrado aos assessores, ainda sem consenso jurídico.
Crime, peculato, concussão, para alguns. Outros, improbidade.
Até quem considere só desvio moral, a negociação entre particulares.
Para quem já nasce bamba, e leva a vida com alegria, uma coisa pequena, escondida, reservada, íntima, para dois, não poderia ter rótulo melhor.
Rachadinha.
Adriana Calcanhoto