DESGOSTO LILÁS
Se todos os vaticínios anunciados não se concretizaram, o fatídico mês sextil de Rômulo será lembrado pela negação do que deveria ter sido.
A crise política, alimentada pelos que sabem que o equilíbrio depende da corda bem esticada, seguiu sua trajetória errática, mas previsível.
Os três poderes continuaram aumentando ainda mais as distâncias entre eles, numa visão enviezada de independência que permite a cada um, a tentação de ser mais autônomo e superior aos outros.
As trágicas efemérides da história política, com lembranças de suicídio e renúncia presidenciais, que mudaram os rumos da nação, este ano, ganharam novos elementos, trazidos pelo principal agente e provável vítima.
Quando o presidente da república externou o palpite do que poderia acontecer consigo, deixou claro o que nos espera no futuro:
–Estar preso, ser morto ou a vitória.
Alternativas que não abrangem uma variedade de elucubrações e outros possíveis desfechos.
O arrefecimento da pandemia pelo avanço das vacinas, permitiu a retomada do colorido calendário de conscientização e alerta para doenças e prevenção de situações evitáveis, lembrados ao longo de cada mês, em todas as cores.
Quinze anos depois de sua promulgação, a Lei Maria da Penha vinha sendo comemorada festivamente nas mídias sociais, pelas instituições governamentais, organizações civis e políticos que empunham bandeiras de combate às desigualdades e defesa dos direitos das pessoas.
Um lamentável acontecimento, fortuito, que poderia ser mais um isolado caso de violência de gênero, a ser resolvido entre as quatro paredes de uma delegacia de polícia, custou a receber a merecida atenção pública e quase nenhuma sororidade.
O elevado nível profissional dos envolvidos inibiu entidades e associações, sempre prestativas na divulgação de notas de apoio ou desagravo.
Casa de convivência de contrários, o local da ocorrência abafou a reverberação do que poderia ter servido de eloquente exemplo para que não se repitam deploráveis e inadmissíveis eventos.
Os antímeros ideológicos que a tudo contaminam, não deixaram de indicar as respectivas posições antagônicas.
Nem faltaram os isentões que desta vez, optaram por esperar laudos periciais para explicar o injustificável.
Das duas uma, ou duas de quinhentos.
A não ser que prevaleça a doutrina defendida pelo jurista e senador em seu douto parecer, em caso dessemelhante, como se estivesse em julgamento, um bebum qualquer, flagrado numa blitz.
–Precisamos saber o que ela fez para merecer.