25 de abril de 2024
CIÊNCIACoronavírus

QUANDO A CIÊNCIA FALHOU

 

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O Médico (1891) – Samuel Luke Fildes – Galeria Tate, Londres


A verdade sempre vence a dúvida.

Há dois anos, quando se  avistava o tsunami aquém do horizonte, a fé se amarrava em correntes de orações e promessas a cumprir quando os bons tempos voltassem.

Raras notícias positivas eram garimpadas  onde só havia desalento e pirita.

Entre curandeiros, adivinhões e neo-cientistas, uma boa nova, vinda da longe, vinculada no mais famoso jornal do mundo, foi um sopro de otimismo e esperança que os negacionistas, pelo menos daquela vez,  estivessem certos.

Um estímulo  positivo para quem acompanhava de longe os relatos de destruição e medo.

Estampado no The New York Times.

Pesquisadores do MIT  (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), acabavam de publicar um trabalho sobre influência do clima na propagação da pandemia.

Como todas as viroses respiratórias, a Covid-19 também teria predileção pelos ambientes frios.

Doenças que começavam no hemisfério norte, ao cruzarem o equador, já vinham atenuadas e transformadas em resfriados e não resistiam às mezinhas que nossas avós ensinaram.

A excelente novidade era ciência consagrada, rezada numa das mais suntuosas catedrais do conhecimento.

As fronteiras norte-americanas, cercadas e protegidas pelo big stick de um  arrogante presidente, estariam ainda mais invioláveis pelo verão que se anunciava.

A temporada de calor,  prevista para  começar antes que a contaminação aterrissasse no JFK Airport, seria recebida com uma festa de liberdade.

Todos entrariam em férias e tudo seria como sempre foi.

Com o profeta Frank Sinatra invicto, sem ninguém pra cantar modinhas de ninar, o topo do mundo jamais  cairia no sono.

Para quem pelejava nos trópicos, com invernos sem agasalhos, altas  temperaturas e umidade na maior parte do ano, imitar mais uma vez o irmão mais rico, era um bálsamo.

Os sábios de Cambridge, infelizmente estavam completamente equivocados e redondamente errados.

Não contavam com a astúcia do invasor. Nem com as suas mutações, cepas e variantes.

Na Ásia, não arrefeceram na estação das monções.

Os ventos  e as  chuvas torrenciais não afastaram o intruso invisível.

Abaixo da linha imaginária da pobreza, a floração das craibeiras foi sinal também ignorado pelos saqueadores.

O clima semiárido de estepe, nas caatingas, não impediu o domínio alienígena.

Vieram de mala e cuia e se aboletaram onde bem entenderam.

Não faltavam sabichões para, entre erlenmeyeres, buretas e outros frascos de  laboratórios, em poses apocalípticas, quais ungidos discípulos e únicos porta-vozes da Ciência, anotarem no calendário de sofrimentos, que levaria dez anos, para uma vacina eficaz poder  ser aplicada.

Ainda bem que cientistas também erram.

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O Viúvo (1904) – Samuel Luke Fields – Walker Art Gallery, Liverpool

 

4 thoughts on “QUANDO A CIÊNCIA FALHOU

  • Ari de Oliveira Câmara

    Bem, vamos lá, em primeiro lugar é a ciência que nos dá suporte, subsídios e recursos para enfrentar adversidades e mesmo para nosso dia a dia ( o computador que o nobre jornalista escreveu o texto é oriundo da ciência), quanto a pandemia não se pode comparar o conhecimento de dois anos, quando tudo estava se iniciando, com a evolução que em conhecimento gerada a partir daí e terceiro a ciência não é dona da verdade mas se vale de métodos e procedimento para chegar o mais perto possível. Meu conselho sempre foi ouça a ciência e não o tio do grupo de whatsapp. Para concluir esse tipo de opinião só serve para exaltar o negacionismo que atormenta esse país partindo principalmente do governo federal e seus colaboradores

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  • A verdade científica sempre aparecerá.
    Os equívocos ficam na conta de quem fala em nome da Ciência.

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  • Luíz Costa

    A verdade sempre vence a dúvida. Boa Doutor.

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