RELATO DE SOBREVIVENTE
A expectativa de período longe das preocupações do dia-a-dia, exige verbos mais prazeroso para definí-la.
Ninguém mais passa ou deixa as férias passarem. Elas quando não desfrutadas, são gozadas.
Mesmo para os que, por força da idade, já as vivam, permanentes e eternas.
A pandemia também ditou regras para quem convive com outro vírus igualmente persistente e refratário às vacinas.
Foi só a segunda onda de contaminação e gravidade passar, para a cepa viageira ressurgir do nada.
A vontade incontrolável de ir mais longe, afastar-se dos problemas de sempre, para ver com nitidez que as soluções desenhadas não libertarão o país do futuro, dos atoleiros passados, desta vez, enfrenta mais um obstáculo.
Países cosmopolitas que aumentavam suas riquezas com o deslumbramento dos visitantes com história e cultura, abdicaram da atividade e dos ganhos com o turismo, por medo do estranho, estrangeiro mesmo vacinado, potencial portador de uma possível nova variante perigosa.
Para os brasileiros, Portugal é alternativa prática e quase única, quando nem os hermanos nos querem ver esbanjando reais na Calle Florida, de pesos quase sem valor.
Menos para quem embarcou na expectativa e iminência de novas restrições a serem determinadas, depois de ouvida a Ciência e seus comitês de assessoramento.
Os que chegaram junto com o decreto de novo estado de emergência, certamente pensaram na fria que poderia ser maior que as temperaturas previstas para o fim do outono, entre 7 e 15 graus.
Os oito meses de início do novo normal, recheados de elogios pelos melhores índices de vacinação e manejo dos lockdowns, chegavam ao fim.
A proximidade das festas de fim-de-ano e o cansaço dos controles sobre os liberdades individuais, jogaram para além do Dia de Reis, as trocas dos presentes que na maior ex-colônia ocorrem dez dias antes, e as medidas mais drásticas especuladas.
Por enquanto, seguem maior rigidez na vigilância das fronteiras e tímidas restrições à circulação dos não vacinados.
Autocarros, comboios, elétricos e metro com livre, digital e impessoal acesso. Distanciamento zero e uso das máscaras, mais por costume que convicção.
Tudo como dantes, nos ambientes mais populares. A tosta com galão, os pastéis de nata e todos os sonhos de doces das confeitarias, sem a burocracia exigida em ambientes luxuosos.
No ribeirinho Sud e no igualmente modernoso JNĉQUOI, a constatação e o carimbo que continuamos em subdesenvolvimento.
O QR Code do certificado de vacina, incluída a de reforço que só os portugueses maiores de 65 anos têm direito, não é lido pelas maquininhas dos sempre elegantes maîtres europeus.
Aceito o print como documento legal e verificada a data da última injeção, o passaporte para as delícias e sabores inesquecíveis é liberado.
Não fosse a cotação do euro, quantas estórias não teria o sobrevivente do estado de emergência pra contar, de um mundo que parece já ter aprendido a conviver com a pandemia?
Bom dia, já estava sentindo falta dos textos do senhor. Que tudo continue melhorando!!
Vamos continuar juntos, observando a vida é os viventes.