27 de abril de 2024
Diversos

Promotor potiguar dá dicas no Estadão de como evitar problemas nas férias

Do Blog de Fausto Macedo, no Estadão, as dicas do promotor potiguar José Augusto Peres:

O título acima te lembrou o filme de 1983, refilmado em 2015? Foi de propósito. A seguir trataremos de como evitar problemas com a compra de pacotes de viagens, e o faremos usando títulos de filmes para facilitar a lembrança desses cuidados.

Troia – a vitória do planejamento sobre a força bruta. Prepare bem todos os passos de sua viagem. Bom planejamento previne aborrecimento. Não deixe as compras para a última hora. A antecipação ajuda a encontrar preços melhores e o acesso a todos os passeios e atrações que você deseja.

Eu sei o que você fez no verão passado – Pesquise na internet o histórico das empresas com as quais está lidando. Caso encontre muitas reclamações, sobretudo não resolvidas, procure outros fornecedores para sua diversão. Isto lhe ajudará a separar o joio do trigo e o fará economizar muitas dores de cabeça.

Os delírios de consumo de Becky Bloom – não gaste mais do que pode. O ano foi cansativo e estressante. Você trabalhou duro, passou muito tempo longe da família, todos merecem uma recompensa. Certíssimo. Mas essa recompensa precisa caber no seu bolso. Não invente de sair comprando pacotes de viagens de luxo, passagens de classe executiva, cruzeiros em cabines com varandas enormes, sem fazer direito as contas. Lembre-se que no começo do ano há várias “contas extras” como IPTU, IPVA, material escolar e uniformes das crianças, restos de contas do Natal. Esses gastos, que não são extraordinários, pois todos os anos ocorrem, podem comprometer seu orçamento e dificultar o pagamento das tão sonhadas e merecidas férias.

Um dia a casa cai – a importância de um seguro viagem. “Sempre viajei e nunca ocorreu nada”. Sorte sua. Mas essa sorte pode mudar. E se mudar, é bom que você esteja bem preparado. Nada melhor do que um seguro viagem completo para proteger você e sua família de gastos inesperados. Uma simples inflamação na garganta, pode resultar em uma conta maior do que a passagem aérea.

Há menos de um ano, numa viagem a Orlando, tive uma crise renal e precisei ir ao hospital. Consulta: “de zero a dez, em quanto está a sua dor?” “Em doze”. Morfina, soro. “E agora, a dor está em quanto?” “Entre oito e nove”. Mais morfina, exames de imagem, meio dia de estada no ambulatório, remédios. Sabe quando deu a conta? Nem eu. Antes de viajar, como sempre, fiz meu seguro viagem e nesse caso, me custou menos de duzentos reais. Vale muito a pena.

Procure uma grande empresa do setor ou operadora de viagem. Confronte preços, peça descontos para a família toda, faça seu seguro e aproveite as férias sem se preocupar com o custo de ser atendido por um médico ou dentista em caso de necessidade. Lembrando que vários seguros de viagem dão direito à consulta no próprio hotel ou outro local de hospedagem onde você e sua família estiverem, sem que vocês precisem se deslocar.

Apertem os cintos, o piloto sumiu – ou foi a passagem que sumiu? Você não quer chegar ao balcão da companhia, com toda a família, malas e ansiedade para viajar e ouvir da atendente: “desculpe, senhor, mas não estou encontrando a sua reserva”. Ou quer? Claro que não. Então, dias antes da partida, volte à página eletrônica da companhia aérea e consulte suas reservas, veja se estão todas lá. A ida, a volta, os nomes corretos, as datas certas. Cheque os aeroportos de saída e de retorno.

Imagine no dia da volta daquela viagem maravilhosa a Buenos Aires. Você chega ao Aeroporto Internacional de Ezeiza, cheio das comprinhas nos outlets, um monte de alfajoles e “dulces de leche”, entrega o localizador da passagem e os passaportes à atendente da companhia aérea e depois de muito procurar, ela te diz: “senhor, seu voo parte do Aeroparque Jorge Newbery, que fica…” Eu sei onde fica moça. A quase uma hora daqui e a quinze minutos de onde eu estava. Sim. Eu cometi esse erro. Mas você não precisa repeti-lo. Por favor. A propósito, chegamos a tempo de embarcar de volta para o Brasil.

Contatos imediatos de terceiro grau – Você não tratará com alienígenas em sua viagem (assim espero). Mas você, além de confirmar seus voos, precisará confirmar sua hospedagem e seus passeios. Mantenha contato com as empresas envolvidas. De preferência, por escrito. Mande e-mails, guarde esses e-mails e as respostas. A resposta está demorando? Então telefone. Fale. Peça para responderem ao e-mail. Documente-se sempre!

Bonitinha mas ordinária – não se deixe iludir pelas fotos publicitárias. Você entra no site do hotel ou da pousada e só vê fotos maravilhosas. Tudo muito lindo, amplo, limpo. O encanto acontece. É paixão à primeira vista, certo? Errado! A fotografia faz mágica. Pesquise melhor. Agora que você já sabe como o hotel ou a pousada se apresentam, pesquise como os hóspedes os vêm. Visite sites de venda de estadia, de análise de hospedagens. Veja as notas que foram dadas. Leia com atenção os comentários.

Observe que sempre haverá gente reclamando de algo. Veja se aquela reclamação é pertinente. Há alguns anos, pesquisando hospedagem em uma das cidades mais visitadas por turistas no mundo, eu queria um hotel bem no burburinho, perto de tudo. Encontrei um cujo preço cabia no meu bolso e fui ler as avaliações. Alguém deu a nota mínima porque havia muito ruído em volta do hotel. Ora, o que essa pessoa queria, se a localização dele era no epicentro da cidade? Então, não se deixe levar por um ou outro comentário negativo. Veja se os pontos positivos compensam eventuais ou pontuais notas desabonadoras.

Missão impossível – apesar do planejamento detalhado, algo saiu errado? Não se desespere. Se documente, reúna provas para entrar com uma ação no retorno. Enquanto isso, improvise. Procure se divertir ao máximo, apesar dos contratempos. Não deixe que um pequeno aborrecimento transforme sua viagem em A hora do pesadelo.

*José Augusto de Souza Peres, diretor financeiro do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon), promotor de Justiça de Defesa do Consumidor em Natal/Rio Grande do Norte, mestre em Direito Constitucional pela UFRN e membro auxiliar da Corregedoria Nacional do Conselho Nacional do Ministério Público