8 de maio de 2024
Coronavírus

500 MIL

Enterro na rede (1944) – Cândido Portinari, MASP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand


Há um ano, a grande onda da pandemia atingia seu ápice, e um cabalístico número ocupava todos os espaços da mídia.

Neste canto de telinha iluminada, o registro dos acontecimentos merece ser revisto, em  pausa para reflexão:

ATOS SEM CONTRIÇÃO

Declaração de isenção de conflito de interesses:

O autor responsável pela submissão deste textículo, declara aos leitores e a quem mais interessar, não possuir conflito de interesses, pessoais, comerciais, financeiros, acadêmicos, políticos, partidários nem ideológicos, no assunto que trata o manuscrito.

Declara também que todas as informações que poderiam levar a um possível conflito de interesses, são do conhecimento da editora-chefe do blog, por tratar-se o autor, de médico em processo de aposentadoria, preocupado com a preservação da prática da Medicina liberal, baseada na Ciência e na Arte de curar.

Dos fatos:

O registro da inimaginável, vergonhosa e trágica marca das 500 mil mortes de brasileiros e brasileiras pela pandemia, foi acompanhada  de acontecimentos que merecem desapaixonada reflexão.

As manifestações coletivas não representaram as dores de cada um.

Não multiplicaram por cinco centenas, os milhares de prantos calados, reservados,  distantes dos últimos adeuses.

Como evento previsível, qual um milésimo gol de um craque do futebol, a data provável foi precedida de contagem regressiva, tendo faltado somente no momento exato, a breaking news do plantão da redação, registrando o enterro de fatídico número, qual  nascimento do primeiro bebê, em ano novo.

Foram ouvidos minutos de silêncio em estádios já mudos, sem torcidas.

As pessoas não foram chamadas para se ajoelhar nas ruas, como têm feito os atletas antes das competições, mundo afora.

Ninguém marcou hora para  rezar  um padre-nosso coletivo, nas sacadas dos edifícios. As luzes não foram apagadas, todas ao mesmo tempo.

A quietude sepucral foi quebrada com vituperiosas batidas de panelas e brados de anacrônicos slogans, barulhos que não remetem a notas de pesar e saudade.

As aglomerações organizadas por partidos políticos e entidades sindicais, não receberam reparos nem reprimendas nos editoriais da grande mídia.

Como já havia acontecido com as movimentações do Black Lives Matter, não foram consultados experts que conseguem prever quantos casos de contaminação são acrescidos ao cabo dos onipresentes 14 dias, seguintes a passeios de moto.

Os sinos das igrejas repicaram sem que fossem celebradas liturgias cristãs de exéquias.

As bandeiras desfraldadas, tintas em vermelho rutilante, demonstraram que o ódio venceu o luto.

Das conclusões:

A presença de celebridades, artistas,  políticos e formadores de opinião, nas redes sociais, com mensagens de sentimentos, pêsames e condolências, não escondeu a mesma motivação que move a outra tropa de choque que defende o governo, único acusado de responsável pela sinistra efeméride.

Que o lamento pelos ausentes não sirva de desestímulo aos que continuam lutando para salvar os caídos, recuperar mutilados e proteger sobreviventes.

Os erros do passado serão condenados, nos tribunais, nas eleições e  principalmente, pela História.

Nunca é tarde para lembrar que a guerra ainda não acabou.

E que o inimigo está na vanguarda.

Só pode ser visto, olhando-se  para a  frente.

(23/06/2021)

Enterro (1959) – Cândido Portinari – O quadro da ‘Série Retirantes’ foi roubado do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, Olinda, em 2010

 

2 thoughts on “500 MIL

  • Maria das Graças de Menezes Venâncio

    Domício, pelo menos você tem se relevado um homem inteligente diante do contingente dos amalucados locais. A cidade difícil com a febre do PT. Dei uma olhada na Tribuna do Norte rápida. Mas, fique sabendo que as mulheres são piores. Invejosas. Sem autonomia algumas.Loucas para lhe pegarem numa pegadinha. Bom final de semana.

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  • Maria Das Graças Menezes De Menezes Venâncio

    Excelente texto. Acho também que foi assim. As pessoas ficaram caladas diante dos seus mortos e da sua dor. Não sou médica, mas tenho a impressão que muitos se aproveitaram da ocasião para ganhar mais dinheiro. Realmente, também não me interessada com a enxurrada de informações sobre celebridades daqui e de outros lugares do mundo. A gente foi tomando conhecimento da Pandemia por informações de pessoas que chegavam de outros lugares do mundo. Agora já posso dizer que quero tomar a vacina da gripe pois é o que me afetou mais. Que não tomo a 5a dose, até porque muitas pessoas adoeceram do coração ou tiveram AVC. Não gosto do PT e seus métodos de trabalho. A Ufrn por exemplo está acabada. Li recentemente uma notícia triste que quando Hiroshima ficou arrasada por conta da bomba atômica Stálin o líder soviético mandou tropas para aniquilarem com os japoneses. Continue escrevendo suas crônicas é um refrigério diante de tantos intelectuais tolos que existem. Eu continuo e lutando pela sobrevivências, porque ao contrário do que um imbecil local me disse no facebook meu pai não é e nunca foi barnabés era funcionários público como tantos outros que fazem sua parte na sociedade, ele pelo visto não sabe fazer nada. Tenha um ótimo dia.

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