27 de abril de 2024
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A CULPADA IMAGINÁRIA

 

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A pandemia nem amornou por completo  e a campanha de descrédito de uma das profissões mais admiradas e respeitadas, já está de volta. De novo, no ar e na mídia de todos os tamanhos.

Esqueceram rápido os que, ao lado de outros tantos companheiros das equipes médicas, arriscaram a vida no front da batalha mais cruel.

Nem ao menos respeitam a memória dos caídos nos campos heróicos, salvando os atingidos pelo inimigo invisível.

Agora, por trás do escudo protetor das vacinas, e confiantes numa imunidade sem garantias, passam a questionar condutas e tratamentos usados quando tudo que os médicos e os mais sábios sabiam, era que  daquela doença, naquele tempo, quase nada se sabia.

A CPI do Senado, qual um exército de brancaleones, percorre os subterrâneos e catacumbas do poder, em labirintos já trilhados tantas vezes por eles próprios, em busca de um culpado que desde o início, já  identificavam.

Para julgar, condenar e se possível,  terminar o serviço do esfaqueador insano da Rua Halfeld, atacam sem piedade toda uma classe.

Travestidos de censores da arte de curar, os mais violentos verdugos, iludindo os leigos sob um lustro de conhecimentos ultrapassados, retirado o mofo das escadas que usaram para alcançar seus cargos eletivos, têm a petulância de ridicularizar os ex-colegas que continuam, nas beiras dos leitos, humildes e eternos aprendizes.

Transformam conceitos que se renovam na ciência das verdades transitórias, em atos criminosos.

Convicções passadas de geração a geração são escondidas no abrigo da clandestinidade,  para não acabarem na  fogueira da profana inquisição.

Os alquimistas do planalto, de folha corrida sobejamente do conhecimento público e dos tribunais lenientes, por conviverem com tantos Mr. Hydes, querem grudar no peito de todo médico, um crachá de Dr.Jekyll.

Para os poderosos que leem Graciliano Ramos e outros clássicos com os olhos de assessores regiamente remunerados, a lembrança que a missão que abraçaram não é nova.

Muitos tentaram denegrir a Medicina por ciência inexata, os médicos como falsos deuses e atear fogo à  intricada relação saúde-doença, médico-paciente.

Pelo menos um, com muito mais inteligência e graça, ficou perpetuado na história do teatro de comédia.

Argan, personagem criado por Molière há 350 anos, na sua hipocondria, só queria mesmo é que sua filha casasse com o filho de um médico, para garantir tratamento gratuito para a família toda.

A fixação do doente imaginário pelos médicos  não teve cura, mas a esposa que se aproveitava da situação para proveito próprio e vantagens, foi desmascarada ao final da trama.

Na peça em exibição no Teatro dos Três Poderes, uma classe inteira não tem direito a se defender, a expor livremente o pensamento, ao contraditório nem de  exercer sua profissão como sempre fez.

Que não seja injustamente punida.

Nem acabe como a única condenada no dantesco espetáculo.

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