27 de abril de 2024
Política

A DANÇA DOS PREFEITOS

4290C67C-09C1-41D3-8C12-F198879253AFNas efemérides pelos cem anos  da Independência, quando construiu o palacete de linhas coloniais, onde seria traçado o futuro da cidade, o arquiteto italiano Miguel Micussi deve ter pensado também na dança do poder.

Os amplos salões, as largas portas, o assoalho de madeira corrida, a iluminação bruxuleante, são convites para pas de deux, rodopios e piruetas.

Em eras priscas, as grandes datas foram comemoradas com valsas e polcas.                               

Tempo aristocrático do engenheiro de english aplomb, em prolongamento para um outro, igualmente nobre e gentil que virou praça no proletário Alecrim.

Com a ascensão do primeiro popular, de  origem oligárquica, eleito pelo voto dos alfabetizados, foi a vez dos folguedos praianos e dos baixios chegarem aos altos da cidade, para bailarem livres dos alagadiços das rocas e ribeiras.

Mostrou que de pé no chão, além de se ensinar a ler, também se podia dançar. Araruna, Boi Calemba. Chegança. Pastoril.

E19947FE-12F0-4040-A6FE-E8866BEEB35FQuando foi permitida  a escolha do ritmo por eleição da  gentinha, o sucesso foi marcado pelas paródias.  Antes do fim combinado,  uma piada de bom gosto em alta patente, fez o maestro perder  batutas e partituras.

O estilo familiar voltaria anos depois com um aprendiz que apesar de desengonçado, rodopiou por muito tempo nos melhores bailes da república. Até perder o timing de pendurar as sapatilhas.

No longo inverno das marionetes,  desanimação pra nunca mais voltar. Só de longe se podia ouvir o ritmo cadenciado das marchas desalmadas e das fanfarras tristes.

Já prevendo  o tempo carrancudo prestes a se dissipar,  portas reabertas com o novo ritmo das lambadas. E para uma dinastia.

Dançarinos que dominavam, na teoria, a técnica mas dançavam sem alma, não evoluíram.

819454B7-8C7F-4D8B-AB00-0FE25983A248Quando a partner assumiu o comando do sarau, a plateia gostou, pediu bis e fez pauta em outro palácio ainda mais majestoso, onde, sob aplausos, voltou a abrir as cortinas da boca de cena e do sucesso eleitoral.

Seu reserva, agradou quando trouxe a animação e os bonecos do carnaval de Olinda mas não conseguiu contagiar o público do interior.

Nem a crítica musical e de tudo o mais que estivesse fora da ordem, mostrando como consertar, se deu bem no ambiente sem assepsia.

Chegou a vez do  reserva do reserva mostrar seu valor.

Ainda sem saber muito bem onde mostrar o  gingado aprendido em bailes de coroas,  procura seu lugar no palco principal, dividindo  os holofotes com ex-mega estrelas do cancioneiro.

E tome frevo, xote, xaxado e baião.


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