3 de maio de 2024
CoronavírusMemória

A HISTÓRIA DA FARSA REPETIDA

Horas de angústia (1904) – Julio Romero de Torres – Museu Julio Romero de Torres, Córdoba, Espanha


As palavras caem no esquecimento, 
por desuso ou obsolescência, mas um dia, podem acordar para  lembrar  que ainda estão vivas, como fantasmas.

A pandemia  mostrou a duração da vida útil de termos técnicos, empregados à exaustão,  logo transferidos ao arquivo morto da prosódia.

No início do enfrentamento, na curta intervenção do Imperial College de Londres na administração estadual, os cientistas que abundaram os noticiários das TVs, especialistas em previsões catastróficas, além de  números terríveis, plantaram palavras de vida midiática efêmera.

Sem ter passado de ameaça, nunca empregada, a  amarga pílula do lockdown será para sempre  rejeitada nos agravos de  doença vindouras, por carência de comprovação científica.

As doses de solidão preconizadas, variáveis  a cada onda de contaminação, não voltarão a ser  prescritas novamente.

Uma clementíssima trindade epidemiológica que foi apresentada em cenários e planos traçados sem largos  horizontes, não resistiu ao pouco tempo passado, e já pede, novamente, explicações em notas de rodapé, nos livros grossos da Ciência.

Diante do monstro que havia chegado, entre correr e o bicho pegar, nas opções apresentadas, nomes reposicionados no vernáculo, como drogas para utilização off label.

Poucos haverão de lembrar os conceitos que dominaram as discussões, e sozinhos, resolveriam todos os problemas:

Inação, Mitigação, Supressão.

As medidas restritivas, hoje vistas pela câmera de ré, são risíveis, não fossem tão cruéis.

Com os batalhões de propagação da doença concentrados nos transportes coletivos de frota reduzida, não se pode  estimar os prejuízos pelo fechamento de escolas e negócios.

Alunos, empresários e trabalhadores que perderam oportunidades, patrimônio e empregos, continuam fazendo contas que jamais serão esquecidas.

Na proustiana busca do tempo perdido, a revelação que o projeto passou longe da linha de montagem.

O senhor da razão constatou, que nada aconteceu como previsto.

Nem o desastre, menor que o desenhado, mas terrivelmente devastador.

Em meio ao caos,  não tardou a volta de outros palavrões encontrados nos  escaninhos dos parlamentos, e  sempre recorridos quando se deseja  chafurdar malfeitos, procurar culpados, bodes malcheirosos, holofotes  e votos nas eleições futuras.

Comissão Parlamentar de Inquérito.

No aniversário de dois anos de sua instalação, o que deixou a senatorial madame, além de lições de hipocrisia e arrogância, lembranças de cenas de terror e, tempo e recursos perdidos?

De lados trocados, já pronta para o forno das vaidades, a receita  de Karl Marx que da primeira vez veio como tragédia e agora, como farsa.

Triste Brasil, oh quão semelhante estás.

Mira , que bonita era (1895) – Júlio Romero de Torres – Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri

(Com modificações, este texto foi publicado em 24/04/22)

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