A NAU DOS VACINADOS
Ainda não apareceu profeta, clarividente ou cientista para revelar o mais guardado segredo da humanidade.
Quando acabará a maior de todas as tormentas.
O mundo mostrou-se sem uma liderança que, esquecidos os limites dos mapas geográficos, falasse em nome de todos da espécie.
A ONU e a Organização Mundial da Saúde não conseguiram se livrar dos grilhões e continuaram atendendo aos interesses das grandes potências, das mais ricas economias e dos gigantes da indústria farmacêutica.
É nítida a falta que faz uma entidade que possa tomar justas e necessárias decisões globais para o bem coletivo.
E sábios como Albert Sabin que doou seu conhecimento para livrar o mundo de assemelhado sofrimento.
Ainda bem que não há evidências científicas da existência de vida inteligente e mais evoluída nos trilhões de galáxias deste universo encantado.
Imagine se na mais fantástica e esperada visita, um ilustre viajante, saído de uma nave interestelar pedisse para ser conduzido ao líder da horda de aflitos.
Ao longo do processo que nos atinge, com armas desconhecidas, os invasores destruíram lideranças, apequenaram maiorais e destruíram seus pés de barro.
Os chefes de estado não souberam enfrentar a agressão antes que os problemas fugissem do controle e agora, ao se vislumbrar que não é próximo um final para a luta, na terra arrasada, responsabilidades e culpas são transferidas de uns aos outros.
Antes de planos para salvar todos os tripulantes e passageiros da nave terra, o que se viu foi uma corrida desenfreada pelo pódio da vacina.
E pelo ouro de suas medalhas.
O primeiro, o mais capaz de se proteger e aos seus, e de juntar a maior montanha de dinheiro jamais imaginada, seria declarado vencedor.
Não foram ainda assimiladas as duras lições ensinadas em meio a tanto sofrimento e perdas.
A doença sem fronteiras e sem preconceitos, resistiu aos tratamentos e avança entre as múltiplas doses de vacinas, desafiando as medidas de proteção.
Quem pensava, amealhando imunizantes, estaria protegido, não ganhou certificado de garantia.
O inimigo adota tática de guerrilha, a mesma que já triunfou sobre poderosos exércitos e continua a confundir seus estrategistas.
Novas cepas e variantes perturbam a paz de quem esperava voltar à velha maneira de viver, depois do meio mililitro da poção mágica aplicada no braço.
Os caminhos da ciência e dos grandes negócios se cruzaram e é cada vez mais difícil saber quem está apontando o rumo nesta imprevisível viagem.
Os que achavam poder relegar os mais carentes à sorte, terão que incluí-los nos calendários de vacinação, ou a imunidade própria não será conquistada.
Estamos todos no mesmo navio e as calmarias não tranquilizam.
A Morte e o Avarento (1490-1516) – Galeria Nacional de Arte, Washington – Hieronymus Bosch