A PAIXÃO VESTE VERDE
Com 32 partidos políticos, é impossível que cada um tenha a própria cor para identificar seus militantes e apoiadores.
Acostumados a dar nó em pingo d’água, os candidatos vão às minúcias dos tons e nuances da paleta para se mostrarem diferentes dos concorrentes.
Não há como fugir da lembrança de estórias que recordam o grupo político que há mais de 60 anos se unia em torno de uma bandeira e um líder carismático.
É dele, o rótulo mais longevo da política potiguar.
Começou como xingamento, termo pejorativo, de censura aos que teriam se aproveitado do empreguismo para angariar votos.
O principal alvo das críticas, feiticeiro que diziam ser, sabia a fórmula de transformar ofensas em símbolos identitários.
O que era para ser vergonha, virava, semelhança, ufanismo e orgulho.
Tinha o dom de valorizar as pessoas, e transformá-las em militantes das suas causas.
A gentinha menosprezada, por artes do cigano nômade, virou aliada e fanática.
Fiel a vida toda.
Mesmo quem não conseguiu o sonho da nomeação na última viagem do trem da alegria madrugador, passou a ser também ave de hábitos noturnos.
A espécie evoluiu.
Fez cruzamentos, aliou-se a outras, sempre no instinto de preservação e sobrevivência.
Não se sabe, se por efeito ainda desconhecido de alguma mutação causada pela pandemia, porque a passarada já não segue no mesmo rumo.
Mas um bom ornitólogo conhece um falso strigiforme, de longe. Pelo piado.
Habitat natural, a bacia hidrográfica do Bujari-Curimataú já abrigou tipos mais autênticos e insólitos.
Originária da serra de Araruna, descida em busca de novos saberes, com o apoio de familiares, conseguiu realizar seus sonhos na cidade cosmopolita.
Professora querida, constituiu família e ajudou a formar crianças, jovens e a ala-moça pra animar os comícios.
A cada eleição, a cor predileta e única, já presente em todos os vestidos e em todas as peças, incluídas as mais íntimas, viçava mais ainda, como o mato no inverno, na bandeira hasteada na cumeeira da casa, o ano todo, no oitão da igreja-matriz.
A paixão era tanta que fazia questão de dizer (e mostrar) que até sua urina era da pigmentação do seu partido.
Sem nunca esquecer de tomar a dose diária do antisséptico urinário para cistite, Terezinha Batista foi a mais autêntica bacurau de todas.
(Parte deste texto foi publicada em 16/09/2020)