A PEQUENA FAMÍLIA
Alguns poucos, a gente escolhe para irmãos.
Outros, tornam-se pessoas próximas, com laços menos apertados de amizade e afeto.
O convívio diário diminui as distâncias e a vida do próximo passa a ser parte da nossa.
Assim são as turmas.
Cada um com seu jeito, o grupo também leva o seu.
A saudade que não descansa, resiste ao bate-papo das redes sociais e só aumenta quando relembramos momentos da criancice que renasce a cada reencontro.
(Publicação original em 18/06/2019)
O TIOZÃO
Parque Jornalista Luiz Maria Alves.
Nome tão extenso, não cai na boca do povo. Impossível a homenagem pegar.
E no corre-corre fica mais fácil abreviar para Bosque, por exemplo.
Que já foi dos Namorados. Mas dizem, perdeu o epônimo pela falta de romantismo em tempos hodiernos.
É sabido que ainda resta um último amante à moda antiga.
Madrugadores conhecem-no bem. Sempre acompanhado, embrenha-se pelas trilhas antes que a alvorada dê bom-dia.
Volta exatos 50 minutos depois. Tempo suficiente para muita coisa. Uma sessão de psicanálise, por exemplo.
Hoje, o resquício de mata atlântica é frequentado pelos extremos do ciclo da vida. De relógios trocados. Velhos nos começos das manhãs e crianças nos fins das tardes.
Entre os peregrinos, conversas cotidianas. Esgotados os assuntos mais empolgantes (futebol, política e chistes misóginos), surgiu na arena das discussões, a nebulosa preferência de alguns homens de bem, sérios e maduros, pela companhia de jovens mancebos, apresentados como sobrinhos.
E não faltaram exemplos. Alguns, notórios e de domínio público.
Outros, revelações de segredos guardados a sete chaves. Em armários.
A conversa ficou ainda mais animada depois que o barulhento grupo passou por um atleta em aquecimento.
Só porque o saradão, neófito na pista, cumprimentou um dos mais loquazes com um inocente, carinhoso e familiar:
-Oi, tio.