15 de maio de 2024
Memória

A PONTE DOS DESEJOS

Ponte de Waterloo (1903) – Claude Monet – Museu de Arte de Denver, Colorado, EUA

Era só correr água no Curimataú que a cidade ficava isolada da capital.

Sem rodovias,  restavam o trem, as baldeações e a Parahyba.

A ponte era a obra mais esperada.

A única chance de sobrevivência quando as ferrovias começavam a perder espaço para os carros, ônibus e caminhões importados e que logo passariam a ser produzidos no país.

Quando promessa de campanha política era cumprida, o sonho de uma cidade inteira foi feito realidade pela obstinação de um jovem recém-eleito.

O Rio de Janeiro, concentrando poder e dinheiro, foi o destino do primeiro alcaide eleito pelo voto popular (só dos alfabetizados), em 1948.

A primeira-dama nunca deixou de reclamar  da longa ausência.  Jurava que a viagem administrativa havia durado inacreditáveis seis meses.

Passados entre o Hotel Ambassador, os gabinetes da burocracia pós estado novo e as galerias do Palácio Tiradentes.

E pelo Teatro Rival e todos os outros que apresentavam revistas e vedetes. Que ninguém resistia aos encantos maravilhosos da cidade efervescente.

Pertencer ao PSD,  mesmo partido do presidente e ter o apoio do experiente Senador Georgino Avelino e do estreante Deputado Dioclécio Duarte,  ajudaram.

Mas incluir o pequeno município no Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia), o programa de aceleração do crescimento da vez, era missão quase impossível.

Valia quase tudo. Até a promessa de dar o nome do diretor do Departamento de Estradas à obra de arte tão almejada.

O engenheiro Régis Bittencourt não é só a estrada que liga São Paulo a Curitiba. Também é ponte no Rio Grande  do Sul, Espírito Santo e Nova Cruz.

O périplo não seria completo sem mimos a Dona Santinha e o beija-mão do Marechal Dutra.

Ao ser apresentado, a inesperada pergunta presidencial.

Se na cidade sem ponte, não tinha ninguém mais velho e experiente para administrá-la.

A resposta do jovem prefeito Lauro Arruda foi tão desconcertante  quanto a pergunta:

Tinha.
Meu sogro.
Mas foi derrotado por mim.

 

Le pont de bois (A ponte de madeira, 1872) – Claude Monet – Galeria Nacional do Canadá, Ottawa


(O texto publicado em 16/09/2019 é resgatado hoje em homenagem ao aniversariante do dia, o ex-prefeito Cid Arruda e sua luta pela ampliação da ponte)

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