28 de abril de 2024
Coronavírus

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS AINDA NÃO ACABOU

8A6F42D1-5396-4FA3-B19D-3DA53E1BC056
A Revolução dos Bichos (2018) – Odyr Bernardi

Os sinais eram incipientes. Com tantas outras preocupações na pandemia, ninguém dava a devida importância aos outros animais.

Eles já haviam percebido que os humanos seriam mesmo os únicos afetados, e já começavam a sair das suas tocas, para retomar os territórios que perderam  para a ganância e a insensatez.

Os mais ousados percorreram áreas ocupadas há séculos, mostrando para as câmeras de TV,  quem andava por ali,  antes de construírem cidades, ruas e monumentos.

A Ciência testou os mais domesticados e concluiu que o coronavírus pode estar presente em outros  organismos, sem causar transtornos ou doenças.

Cães e gatos foram  a prova primeira que o ataque desses minúsculos e invisíveis seres era seletivo.

A guerra era pessoal. Contra os humanos.

Nenhum outro sofreu qualquer agressão, em nenhum lugar do mundo.

Até o bicho que esteve no centro dos acontecimentos quando todo o mal começou, já tem o que comemorar.

O velho hábito alimentar de ingestão de animais silvestres passou a ser tão execrável que a população de pangolins e outros pebas continua livre da pimenta e das panelas.

Nos aceros e pés dos morros de dunas, a vegetação da mata nativa, resquícios da floresta tropical à beira do oceano, os bichos davam mostras que estavam se preparando para assumir outros papéis mais relevantes na natureza.

Frequentadores de um parque de preservação notaram que desde que os homens e as mulheres passaram a caminhar em número menor, sem os antigos grupos, em silêncio de resignação e recolhimento, outras famílias dominavam o pedaço.

Os jacus, antes ariscos e retraídos, avessos a  toda aproximação, fugidios em voos rasantes de galinha,  se reuniam nas áreas proibidas aos piqueniques, com a certeza que não seriam importunados pelo outro bando de criaturas barulhentas e bagunceiras.

Uma espécie em particular foi convocada para missão mais arrojada.

Um pelotão deles se  posicionou além das trincheiras, muros e cercas, para os embates nos campos de guerra dos inimigos.

As iguanas, deixaram as matas e invadiram os jardins.

Mas não pareciam satisfeitas com a destruição que provocam nas flores, nem se bastavam de fazer das orquídeas, menu da dieta trivial do dia-a-dia.

Passaram a fazer assaltos pelo interior das casas, em atitude de pura provocação, como se estivessem passando a mensagem que a invasão não iria parar. Outros chegaram, camuflados para a guerra.

A batalha final que teve este início, depois da estreia de novas cepas e variantes, continua, sem vislumbre de armistício.

O que tem ocorrido em uma  antiga casa mereceu estudo de estrategista com experiência na expulsão dos timbus que aplicavam tática de guerrilha, em ataques  noturnos aos depósitos de lixo.

Desde que os marsupiais foram para outras paragens, os répteis avançaram e se estabeleceram.

Instalados no telhado, onde passam o dia no bem-bom de intermináveis banhos de sol, à noite reservam para outras movimentações.

As mensagens já foram decodificadas.

Tudo que eles transmitem é muito claro, cristalino e direto .

Vejam quem está por cima.

E para que não restem dúvidas, lá do alto, mandam seus petardos de odor insuportável como aviso que o território está demarcado.

Só resta agora,  encontrar a prova que o coronavírus é a arma mais letal, criada pela federação dos animais para,  finalmente, tirar a raça dominante do poder.

Desde que os sapiens iniciaram a política expansionista,  há mais de 300 mil anos, não se via um movimento tão bem articulado pelo controle da supremacia zoológica.

9E11F294-6BA7-4124-8F69-CB6B60BEDB33A70ABCB0-A45D-4C33-811E-853A4A19CE341FAB3A27-1D8A-4232-A236-84E9A6081019CB546007-3D63-42C0-AADE-4A5DA3F8CD65EB18644D-BCC2-486D-B183-E335D251FB25A756EB15-4D02-438E-AE0C-CF61012FFBB3
Odyr Bernardi, quadrinista, ilustrador e capista gaúcho

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *