27 de abril de 2024
Coronavírus

SEM CONSERTO

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Aqueles eletrodomésticos que a gente ganhava de presente dos padrinhos de casamento e a vida toda não esquecia quem deu, são agora descartáveis.

Entram e saem da moda, como camisas volta ao mundo.

No tempo que achávamos que era nosso, o tempo e o mundo.

Quanta diferença.

Ferro de engomar, feito de flandre e plástico.

Liquidificador, com velocidade de Usain Bolt, nunca necessária.

Enceradeira que não brilha porcelanato.

Batedeira, pra quem faz  bolo de padaria.

Faqueiro de aço suíço,  desaparece no artigo 482 da CLT.

Porcelana inglesa,  resistente a super bonder.

Não são mais como os de antigamente. Não fazem mais.

Tudo já vem feito.

De longe.

De fora.

Para perto.

Para dentro.

Das nossas casas.

Poliglotas Polivalentes.

Instruções em toda língua e desenho.

Voltagem pra qualquer fio e tomada de três pinos.

Presidiários fabricam, sonegadores trazem, camelôs vendem.

Nós compramos. Ao preço de 1,99. Corrigida a variação do dólar.

E la garantia?

-Soy yo.

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Estamos mesmo dominados.

Eles vieram, viram e venceram.

Há tempos, invadiram nossos lares . Levaram um tempo. O tanto  de  ganhar confiança.

Que no  começo era cisma só. Tão baratos, não duravam. Nem prestavam.

Quem haveria de imaginar um ching ling no altar da telefunken, santa alemã parruda que como carro japonês, nunca dava oficina.

E foram chegando.

Singrando mares.

Desembarcando em porto que nunca existiu.

No lago azul de Ypacaraí.

Por todo canto, ocuparam os espaços.

É só cair uma neblina que na próxima esquina, sombrinhas e guarda-chuvas descem automaticamente dos céus, para nos  proteger de resfriados.

Daqueles. Das velhas, boas  e esperadas epidemias. Agravados por mormaço, não resistiam  à uma dose de limão com mel nem ao chulo mastruz com leite.

Agora, autoritários.

Obedece quem tem juízo.

Arrasam quarteirões.

Param tudo. Até guarda de trânsito.

Organizados, dão lições de comportamento, resistência e matérias esquecidas nas grades curriculares  politicamente irresponsáveis.

Depois que tudo voltar ao novo normal, será que não vamos entender que tem coisa que não vale a pena, não compensa consertar?

Que é mais fácil, barato e lógico, comprar um novo.

Trocar o que não tem conserto.

Mesmo que ocupem os mais altos cargos públicos.

2 thoughts on “SEM CONSERTO

  • Marcelo Leite

    Muita sutileza na frase final.

    Resposta
    • Domicio Arruda

      Aquele deu ‘perda total’

      Resposta

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