A ÚLTIMA COCA-COLA DO MARANHÃO
Completa três anos que, desviado dos mares caribenhos, o furacão Bolsonaro fez seu touchdown na ilha de São Luís, aglomerando multidão e deixando um rastro de polêmica.
Desconcertante como é do feitio, estilo e natureza, resolveu declarar guerra aos comunistas.
Logo no primeiro e único estado governado pelo partidão.
Sem dar bolas para o politicamente adequado, em transmissão ao vivo pela TV estatal, resolveu fazer graça com um símbolo da indústria local.
Mal acabou a festa, o anfitrião ausente, governador com nome e cara de simpático dinossauro, com sina de ministro da Justiça e da Suprema Corte e indignação de um bom ludovicense, reagiu.
A infeliz associação de ideias presidenciais homofóbicas com a cor da bebida mais popular, ganhou o noticiário e ameaças de processos judiciais.
Errático, o capitão-presidente prestou um enorme serviço à economia regional e à manutenção da bebida, orgulho e patrimônio do povo maranhense.
Fórmula secreta criada pelo farmacêutico Jesus Norberto Gomes em 1927, o xarope não comprovou efeitos medicinais mas a cor e o sabor caíram no gosto dos netos.
Para logo conquistar a torcida do Sampaio Corrêa e os fiés eleitores de José Sarney.
A abençoada fábrica também atraiu a cobiça dos argentários.
Em 1960 foi comprada pela Cervejaria Antarctica e a marca desapareceu.
Depois de longa batalha judicial, os herdeiros do criador do guaraná cor-de-rosa venderam os direitos de propriedade do rótulo à The Coca-Cola Company.
Na semana em que a empresa-símbolo do capitalismo yankee anunciava uma redução de 11% dos seus negócios globais, em consequência aos novos hábitos dos consumidores depois da pandemia, a intervenção presidencial agora pode ser vista como conveniente e correta.
A empresa com maior penetração nos mercados de todo o mundo avisava que estava prestes a dar o passo mais largo para deixar de produzir produtos que não os mais saudáveis e ecológicos.
Seriam mais de 200 as marcas que deixariam de ser produzidas.
A maioria delas, produtos artificiais e de comercialização restrita.
Além da fábrica nordestina, uma outra unidade produtora de Brasilia seria afetada pelos cortes.
A Coca-Cola passava por momentos difíceis durante o período de isolamento, por conta do fechamento de lanchonetes e restaurantes e pretendia concentrar esforços nas marcas mais conhecidas e mais fortes no mercado.
Mistérios da política e da economia que agora já podem ser esclarecidos pelos sociólogos e cientistas sociais.
Um presidente evangélico e chacoteiro, uniu-se a um governador comunista para salvar Jesus das garras do capitalismo selvagem.
Coisas do Brasil tropicalista.
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N. do R.
Está estória foi requentada