A ÚLTIMA DE LAURA
Quando os netos moram longe, acabam os planos para viagens inesquecíveis em roteiros maravilhosos, daqueles passando por doze países em sete dias.
As excursões são restritas aos pedaços ocupados pelos sem terra do velho mundo, nas lonjuras onde encontraram clima parecido, e ao quadradinho da tela do telefone, pequeno demais para caber tanto sentimento.
Ainda bem que o jovem ucraniano Jan Koum, o Samuel Morse dos tempos digitais, migrou para os Estados Unidos onde teve a ideia e ajuda para criar a mais eficiente atualização do telégrafo.
Pelo WhattsApp, fotos, vídeos e áudios registram as mais precisas curvas de crescimento dos descendentes, se bem que as escalas de Baily e os testes de Gesell não acompanham o desenvolvimento das crianças da geração Alpha.
As que desde pequenas brincam com tablets e smartphones antes mesmo de começarem a falar.
Pelas ondas do wi-fi chegam notícias das peripécias da neta de cinco anos, para aumentar no avô-babão, a expectativa pelo próximo encontro de verdade.
No corre-corre da cidade grande, entre os compromissos da médica, havia um pitstop doméstico para levar a filha para a aula de balé.
Sabendo muito bem a resposta por antecipação, a guria perguntou o que eram aqueles pós, pincéis e tintas que atrasavam o encontro com as coleguinhas de tablado.
A mãe tentou uma explicação cosmetologicamente correta, explicando que por não ter dormido bem, tentava disfarçar as manchas escuras em volta dos olhos.
Perguntada se sabia o que eram as olheiras, a resposta precisa:
“Eu sei. É aquele negocio que fica embaixo do olho, que nem olho de zumbi “.
E para que não restassem dúvidas do domínio da matéria, concluiu o papo reto:
“Quando tiver Halloween você nem vai precisar de fantasia, né?”
Las Meninas é uma série de 58 pinturas que Pablo Picasso pintou em 1957, realizando uma análise abrangente, reinterpretando e recriando várias vezes Las Meninas de Diego Velázquez. (Wikipédia)
