4 de maio de 2024
Comportamento

A ÚLTIMA FASE DO JOGO DA VIDA

 

 

 

 

Infância (Uma criança é abrigada em um barco guiado por um anjo) – Thomas Cole  (1842) – Galeria Nacional de Arte , Washington DC, Estados Unidos.     

 

Entre tantas pílulas que tomamos durante a vida, uma tem sido dourada para quando a meia-idade passar.

Apesar de muita teoria, definições e conceitos, a velhice é mesmo estado de espírito, com  data de início incerta.

A primeira aparição ocorre por volta dos sessenta anos, quando o rebelde interno teima em não usufruir da legislação, e reluta no direito de furar filas e estacionar em vagas reservadas.

Traídos pelos cabelos grisalhos, rugas e pela insistência dos mais jovens que lembram os privilégios etários, as primeiras vantagens passam a ser usufruídas, e entram na rotina e costume.

Logo veem outras.

Descontos nos cinema e teatros, gratuidade no transporte público, sempre requeridos com um misto de satisfação (no bolso) e melancólica sensação de não durar muito.

A chegada da provecta acompanha-se de outros sinais, antes que o mais instigante e ululante, apareça: a bengala e seu  charme, que vai evanescendo com o aumento da curvatura da coluna vertebral.

Uma leitura de jornal e alguma ocorrência com um cidadão tipificado de ancião, a acareação com  os próprios anos vividos a mais que o desafortunado, não deixa dúvida como é visto pelos mais novos.

O que já foi o marco zero da senectude, perdeu a referência, tantas exceções às regras e casos precoces por invalidez.

A aposentadoria, violada pelas necessidades financeiras e adiada ou vilipendiada por  outras atividades mais brandas, deixou de ser parâmetro de tempo.

Os da geração do milênio já começam a investir  metade dos ganhos, pensando em diminuir o ritmo de trabalho, ou trocar por emprego mais prazeroso, tão longo completem os 50 anos.

Os cuidados com o corpo, alimentação saudável e renúncia a alguns hábitos viciantes da juventude, mantêm a vida em movimento, só se rendendo aos indícios de demência que afirmam estudiosos, dobra de intensidade a cada cinco anos, a partir do 65°.

Aos que ainda resistem à implacável verdade, aconselha-se observar o tratamento que recebem dos filhos.

Tentem lembrar como tratavam os pais quando já o consideravam velhos, incapazes de certos afazeres.

Enquanto não se confirma a polêmica hipótese que estamos em processo evolutivo de seleção natural, recomenda-se aos avós da terceira década do século XXI, o revigorante e mágico elixir, sem prazo de validade a vencer,  para ser tomado em doses cada vez maiores.

Netos fazem muito bem à velhice.

Juventude  (A juventude pega o leme, entre as ondas da costa, permitindo-lhe assumir o controle)
Maturidade  (Com confiança, assumindo o controle de seu destino e alheio aos perigos que esperam por ele, o viajante se esforça para chegar a um castelo, o emblemático dos devaneios da juventude e suas aspirações de glória e fama)
Velhice (A pintura final, a velhice, é uma imagem da morte. O homem envelheceu, sobreviveu às provações da vida. As águas se acalmaram; o rio corre para as águas da eternidade)

(Novas reflexões sobre texto publicado em 24/9/20)

One thought on “A ÚLTIMA FASE DO JOGO DA VIDA

  • Geraldo Batista de Araújo

    Como sempre acontece, gostei bastante. Leitura obrigatória e agradável.no

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *