A VACINA DE LAURITA
Enquanto a população do Rio de Janeiro, em pânico, comentava o aparecimento de uma nova doença, as autoridades sanitárias negavam a gravidade da notória situação.
Seriam casos isolados.
A mídia governista, na manchete do Correio da Manhã, era tranquilizadora.
“Não há surto de paralisia infantil.”
O avanço da contaminação foi inescondível e gerou polêmica.
Cientistas e observadores se digladiavam pelos métodos mais eficazes de controle da epidemia.
Com o espírito de Oswaldo Cruz redivivo, muitas casas foram dedetizadas para erradicar algum inseto vetor desconhecido (e inexistente) que estivesse transmitindo a doença.
Pelas estradas esburacadas e nas asas da Panair, a moléstia se espalhou pelo país.
Até que as vacinas estivessem disponíveis, o número de sequelados aumentava a vergonhosa contabilidade, transformada em inaceitáveis estatísticas.
Em 1955, o imunizante injetável passou a ser usado.
Para poucos.
Somente com a chegada da forma oral, seis anos depois, a vacinação em gotinhas começou para todos.
Abrindo mão de patentes e direitos autorais, o Professor Albert Sabin, polonês, imigrante para os Estados Unidos, doou à humanidade o seu trabalho, conhecimento e a erradicação do terrível mal.
Não há como deixar de comparar com o novo vírus que a todos amedronta.
Na falta de tratamento eficaz, medidas higiênicas e distanciamento social diminuem o ritmo da propagação, até que a droga milagrosa que produz defesas individuais contra os invasores, chegue a todos.
A geração dos baby boomers, no pós guerra, foi a maior vítima da virose mutiladora.
Cada família ficou marcada com uma triste história pra contar.
Cidades sem água tratada, transportada em precários barris, em lombo de jumentos, sem esgotamento sanitário, era o ambiente ideal para a proliferação da poliomielite.
Ao lembrar a irmã que partiu há cinquenta anos (estaria completando 75), o inevitável paralelo.
Adoecida aos 8, viveu mais 16 com a deformidade física, muletas, cadeiras de rodas, o grande mal epiléptico e perturbações mentais.
Em todo aniversário, na comemoração, não faltava seu riso debochado com o prognóstico do professor-doutor-catedrático, neurologista carioca que havia estimado o limite da sua vida ao início da adolescência.
Acreditava que muito em breve as cirurgias experimentais que prometiam fantásticos resultados no Canadá, estariam resolvendo seu problema, muito mais perto. No Recife, por exemplo.
Com o pai, procurou a cura nos melhores consultórios médicos e nos mais confiáveis terreiros de todas as religiões, de todas as cores.
A história da doença atual também será contada com saudade e tristeza.
Resta a esperança que a vida será melhor para quem vier depois da tormenta.
Nesta família havia até uma Batista. Seria do
Seridó?
Uma prima vinda de Araruna para estudar.
Foi professora a longa vida toda.
Lembro-me dela, ainda piqueno. Quando estava na sacada do casarão. Ficava confuso, mas sentia uma ternura por ela. Muito linda.
Lembrança boa ver um foto de dona Terezinha Batista muita saudade.