7 de maio de 2024
Coronavírus

A VEZ DOS AVÓS

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Conscientes que são dos  primeiros grupos de risco, as pessoas mais velhas são as que têm seguido todas as recomendações e proibições das autoridades sanitárias com mais rigor.

Não importa se os decretos são estaduais ou municipais, esquecem sempre dos idosos confinados quando o assunto é flexibilização.

Tão fácil de resolver o problema de quem tem mais ficado em casa.

Tudo que eles querem é a permissão de uma visita presencial aos netos, por cada dente de leite prestes a cair.

Mantida a distância de 99 cms e a proibição da prática ilegal da Odontologia.


(Publicação original em 06/07/2019)

DENTE DE NETO

Avós modernos participam mais, ajudam os filhos na educação, nas tarefas, no corre-corre e querem desfrutar por mais tempo da companhia dos pequenos.

Hábitos e horários são mudados ao ritmo alucinante dos compromissos de quem antes dos cinco anos, já pratica de três a quatro modalidades esportivas.  Ballet, outras danças, inglês, às vezes, francês.  Quando não, mandarim. O futuro está  no oriente.

Ah, não esquecer a robótica. Que a garotada já  se preocupa com quem vai dividir, mais tarde, o trabalho pesado.                                   

Depois da reforma  trabalhista, o cuidado vai ser mais com a ferrugem nos technocolaboradores  do que com o pagamento do e-social  das empreguetes.

-Hoje tive que limpar o banheiro.                               O R1, o faz-tudo lá de casa, deu pau.  Deve ter sido  a maresia que oxidou seus sistemas.                                       

Tarefa mais penosa ainda é quando se quer resgatar e manter antigas tradições familiares.

Crente que era pós-graduado em decídua, o vovô de primeira dentição (mas pai de octogésima) tão logo notou o incisivo bambo, ofereceu-se para a exodontia. Indolor. Rápida. Sem traumas.

Não pareceram assim tão tranquilas as memórias  do boticão evocadas pelo fedelho-filho.       

Para ele e os irmãos (ouvidos em vídeo-conferência  pelo zap zap), aquele papo não passava de propaganda enganosa e conversa pra neto dormir.

Sonhando com o procedimento e fazendo planos para o destino do espécime cirúrgico, é hora de providenciar o armamentário:  linha urso 000 (será que ainda vendem no armarinho da esquina?) e uma lãzinha de algodão.

O descarte, estrategicamente  planejado.

Nada de jogar no telhado. Que  em edifícios, não há.                                         Sem essa de fada-madrinha. Melhor enterrar no pé do mourão.

Do vice, não. Da porteira. Pra virar fazendeiro de muitas terras e boiadas.

Ou quem sabe, fazer como  na Turquia. Jogar perto de onde se espera o herdeiro do herdeiro venha trabalhar.                 Algum hospital.
Ou na Praça 7, dos 3 poderes.

Há quem diga que já tem pra vender, álbum como os de figurinhas,  pra coleção completa. Quem sabe no futuro, deles não isolem substâncias milagrosas.

As elucubrações só findaram quando chegou a notícia e a operação, gravadas em vídeo.

Inês não vive mais. O dente já foi arrancado.

Pela malvada doutora que se passou por tia. E ainda vestiu no cliente, roupas, máscara e óculos do Capitão América.

Na próxima vez,  vai ser em casa mesmo.

E com fantasia do Homem de Ferro.

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