2 de maio de 2024
Coronavírus

A VOLTA DO VÍRUS PRÓDIGO

 

Esperança II (1908) – Gustave Klimt – MoMa, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque


Quando chega no ambiente, ninguém dá mais a mínima.

Virou arroz de festa.

Não somente ela, suas aparentadas, saídas dos mesmos grotões para conquistar as cidades, agora não fazem  sucesso algum.

No rebotalho da grande pandemia, com todas as atenções ainda voltadas para a superstar, não sobrou cientista algum para as devidas e convincentes análises e explicações das viroses mais tropicais e negligenciadas.

Observadores da vida em cativeiro e curiosos da entomologia constataram não ser por falta de vetores.

A família Culicidae é numerosa.

Unida, continua zoando os ouvidos mas não se veem carros fumacê rodando os quarteirões.

Os guardas da malária, depois promovidos a agentes de endemias e vigilantes sanitários, deixaram de  frequentar as residências.

As bromélias sem seus predadores naturais,  nunca estiveram tão viçosas.

Caixas-d’água, calhas, tambores e outras tralhas se acumulam nos fundos dos quintais sem despertar promessas, nunca cumpridas, de faxina geral no sábado que nunca vem.

Do lixo e do acumulado em terrenos baldios, não é bom nem falar.

A culpa vai ser do burro da carroça ou de quem não sabe fazer o descarte, sem paciência de esperar o dia da coleta.

O assunto também cansou a velha mídia.

Perdeu espaço no noticiário dominado por buracos e crateras de rua que festejam aniversário com direito a bolo de padaria e transmissão ao vivo, no horário mais nobre da TV.

Que a desaparecida anda diferente, ninguém duvida.

Não frequenta mais os salões onde era rainha.

Pelos pronto-socorros nunca mais passou.

Há quem atribua este sumiço a uma certa inveja.

Ou ciúme.

Por tudo que fez, nunca recebeu tanta atenção quanto a forasteira desconhecida,  que nem havia tirado  a catinga do mijo e já sentava  na  poltrona na janela.

Quem jamais teve reservas de leitos exclusivos nos hospitais, muito menos UTIs inteiras, só tem direito ao choro da Maju.

Com os comitês científicos inoperantes, o motivo desta ausência jamais será esclarecido.

Na guerra ideológica sem armistício, há quem acredite que no tratamento da virose do século, os médicos precoces, adoradores de drogas sem comprovação científica, acertaram no que não viram.

Passado o medo de tantas cepas e variantes, não se toma mais remédio pra piolho.

Não deu outra: a Dengue está voltando.

Medicine & Hygeia (1901) – Gustave Klimt – Detalhe do afresco no teto da Universidade de Viena, Áustria

(A volta das viroses esquecidas foi anunciada neste recanto de Território Livre em 23/04/2021)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *